25/08/2014 12h36 - Atualizado em
05/01/2017 14h54
Diversidade da folia de reis é apresentada 64º Encontro Nacional, em Muqui

25/08/2014
No último sábado (23), músicas e cores ocuparam cada canto da pequena cidade de Muqui. Isso porque o local, situado no Sul do Espírito Santo, sediou o 64º Encontro Nacional de Folia de Reis de Muqui, o mais antigo e maior de todo o Brasil. Este ano, o evento reuniu cerca de 50 folias do Espírito Santo e Rio de Janeiro, que começaram a encher a cidade a partir das 07 horas da
manhã. A programação do evento foi encerrada, por volta das 21 horas, com o show "Circuito de Viola: uma viagem pelos Brasis", de Handrey Mazzini.

Pela manhã, após a chegada e apresentação oficial de cada folia, foi aberto oficialmente o encontro. "É muito importante para o Espírito Santo, pois já é uma tradição realizar esse evento, que mostra a diversidade cultural do Estado", disse a gerente de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), Christiane Gimenes.
Segundo a secretária de Estado de Turismo do Espírito Santo (Setur), Diomedes Berger, o evento faz parte da preservação de uma cultura centenária no Estado. "Nada mais coerente do que realizar esse encontro em Muqui, importante cidade histórica do Estado, encravada na Região dos Vales e do Café, cuja principal vocação é cultural". O prefeito, Aluísio Filgueiras, afirmou que Muqui é um celeiro da cultura e que é preciso preservar o Encontro, que começou em 1950 e é único no país.
Para o presidente da Comissão Espírito-Santense do Folclore, Guilherme Manhães, é muito importante que o encontro seja realizado em Muqui, cidade que busca manter seu patrimônio histórico e cultural. "Esse é um dos principais eventos do folclore capixaba. É um encontro para promover trocas e para manter viva a tradição. A folia é um patrimônio ancorado no coração dos foliões. É importante que se mantenha essa tradição, isto é, que essa festa continue a acontecer. E isso só vai ser preservado se for passado para as novas gerações", diz.
Os foliões e a tradição

Pela primeira vez, a Folia Reis de Bois, de Conceição da Barra, participa do Encontro Nacional de Folias. "Sou mestre há cerca de 15 anos nessa folia e vou ficar nela até morrer. Está sendo muito bom participar pela primeira vez desse encontro, porque estamos conhecendo muitos tipos diferentes de folia. Participar está sendo uma troca, como acontece sempre que nos apresentamos fora de casa", afirma Nilo Barbosa da Silva. Segundo ele, o significado da Folia de Reis é diferente em cada local que visitam.
Ao contrário das folias do Sul do Espírito Santo, esta folia do Norte não tem foliões e palhaços, mas sim os chamados marujos e vaqueiros. "O vaqueiro é equivalente ao palhaço, mas o jeito de brincar é diferente. Ele brinca com o boi, mata o boi, fala verso. Temos o engenho, o cavalo-marinho, a lua. Esse nosso tipo de folia de reis de bois só existe no Norte do Espírito Santo", explica Nilo. Com significado e apresentação bastante diferentes das folias do Sul do Estado, essa folia tem devoção a São Sebastião.

O palhaço da folia
"Sou palhaço há oito anos e folião desde que nasci", afirma o integrante da Folia Três Reis Magos, de Alegre, Jhonatan Gonçalves Dantas. Ele tem 20 anos e é palhaço desde os 12. Observando brevemente as folias que circulam ao longo do dia pela cidade, é comum ver a presença de crianças, tanto tocando instrumentos quanto sendo palhaços mirins.
Jhonatan explica que o significado do palhaço da folia diverge muito. "Em alguns lugares, acreditam que o palhaço seja o próprio rei Herodes, mas a maioria das folias do Espírito Santo acredita que o palhaço seja um soldado do rei Herodes que foi ordenado a matar o menino Jesus, mas, ao ver o menino, se encantou e não conseguiu cumprir a ordem. Para fugir da punição de Herodes, ele se disfarçou com máscaras e roupas e passou a se sustentar cantando, dançando e fazendo rimas. O palhaço não entra na igreja porque ele tem como característica ser pagão. Apesar de se redimir e não matar Jesus, ele não entra na igreja por sinal de respeito", explica o jovem palhaço. A folia da qual ele faz parte tem cerca de 100 anos e foi fundada por seu avô, iniciando a tradição da família na folia.
Ao final do cortejo que fizeram pelas ruas da cidade, desfilando e se apresentando em fila, alguns palhaços acompanharam suas folias até a porta da igreja, fizeram reverência e voltaram, deixando sua folia entrar no local enquanto toca seus instrumentos e entoa os cânticos. Nisso, há unanimidade: nenhum palhaço pode entrar na igreja enquanto estiver com a vestimenta e a máscara. Enquanto os foliões e seus mestres recebiam a bênção dentro da igreja, os palhaços aguardavam do lado de fora e aproveitavam para descansar do calor provocado pelas roupas e máscaras fechadas.
Os instrumentos mais comuns às folias são sanfona, violão, bumbo e caixa ou uma formação mais básica constituída somente por violão, sanfona, pandeiro e voz. Mas no encontro é possível encontroar foliões tocando triângulo e até mesmo um saxofone. Depois da bênção na igreja, a música e os cânticos, como de costume, tomaram conta de toda a cidade. Para onde se ia, era possível encontrar uma folia se apresentando. E assim fica a cidade por todo o dia, colorida e musicada. Até que, ao entardecer, as folias começaram a retornar para suas cidades de origem.]