29/03/2010 13h43 - Atualizado em 05/01/2017 15h34

Cais das Artes: desenhos de Paulo Mendes da Rocha começam a se concretizar

As obras do complexo cultural batizado de Cais das Artes começam oficialmente nesta segunda-feira (29). Quem passar pelo terreno, localizado ao lado da Cruz do Papa, na Enseada do Suá, em Vitória, poderá observar a movimentação dos operários. No mesmo local, também está instalada uma escultura em aço do artista plástico mineiro Amilcar de Castro (1920-2002), que representa o início da construção e já é conhecida como "Portal das Artes".

O Cais das Artes será a primeira obra de Paulo Mendes da Rocha em sua cidade natal. Com 150 metros de comprimento e 30 de altura, com um teatro de ópera e um museu, a construção irá dialogar com a atividade portuária da Baía de Vitória. A obra, prevista para terminar em 18 meses, será contratada por 115,5 milhões. Quando estiver pronto, o conjunto deverá receber, em média, 2500 pessoas por dia entre funcionários e usuários, e movimentar financeiramente por mês R$ 1, 5 milhão.

Para licitar a obra, cujo objetivo é inserir o Estado no circuito nacional e internacional das grandes exposições e espetáculos, foi criada uma Comissão Especial de Licitação, formada por servidores de diversos órgãos e secretarias do Governo do Estado. A empresa licitante vencedora foi a Santa Barbara Engenharia S/A, que soma 40 anos de história e mais de mil obras espalhadas pelo País.

Para o diretor geral do Instituto de Obras Públicas do Espírito Santo (Iopes), Pedro Firme, a fiscalização desta obra inovadora será um grande desafio para o Iopes. "Esta obra será um marco na arquitetura capixaba. Vamos trabalhar com metodologias construtivas diferenciadas, com fundações de grandes capacidades de carga e uma estrutura com grandes vãos e balanços. Esses elementos inéditos no Estado vão nos propiciar um know-how em obras de grande porte", concluiu o diretor.

Ordem de serviço

A solenidade oficial de início das obras aconteceu na noite de sexta-feira (26), no terreno de 20 mil metros quadrados em que será erguido o Cais das Artes. Paulo Mendes da Rocha voltou à Vitória para participar da comemoração, que também contou com a presença do artista plástico Rodrigo de Castro, filho de Amilcar. A coordenadora do projeto Cristina Gomes, o governador Paulo Hartung e a secretária de Estado da Cultura Dayse Lemos recepcionaram quase 700 convidados, público composto em sua maioria por artistas de diversas áreas da cultura.

Mesmo sem voz para o discurso, Paulo Mendes não escondia a emoção. Em outra ocasião falou que "apesar do lado forte voltado para o comércio e para a indústria, o Espírito Santo não esqueceu sua vocação para a cultura e para a educação. Tudo isso me comove. É lindo", disse.

Em seu discurso Dayse Lemos garantiu que "os recursos para execução de toda a obra e instalação dos equipamentos necessários para o seu funcionamento já estão garantidos no orçamento do Estado".

O que significa o Cais das Artes para a cultura do Espírito Santo?
O Cais das Artes reflete o momento atual de desenvolvimento do Espírito Santo. É um lugar que, num futuro próximo, representará nossa crença e confiança numa evolução cultural acompanhada de uma educação fundada na apreciação pela arte. É um espaço que fará com que o Estado abra caminhos para o intercâmbio de idéias, influências e criações com o Brasil e o mundo.

E como é trabalhar com Paulo Mendes da Rocha?
É um prazer conviver com a sabedoria e sensibilidade poética de Paulo Mendes da Rocha. E esta será sua primeira obra em Vitória, cidade onde ele nasceu. E essa ligação forte com o Espírito Santo é perceptível quando ele fala do projeto, sempre com muita emoção.  Ele e sua equipe vão acompanhar de perto a construção do Cais das Artes. Querem ver seus desenhos se concretizando.

Teatro e museu

O teatro será equipado para possibilitar usos múltiplos como concertos de música acústica ou amplificada, óperas, danças ou peças teatrais. Comportará 1.300 pessoas e contará com um palco de aproximadamente 600m² e com um vão livre com mais de 25 metros de altura até o teto, o que vai permitir a utilização de diversos cenários em uma mesma apresentação.

O projeto prevê também um fosso para orquestra sob o palco, com dimensões que vão atender às exigências mundiais. O público que frequentar o local contará ainda com um café que avançará por cima da água, na Baía.

O projeto do museu contempla grandes salões com diversas alturas livres e diferentes tamanhos, totalizando em torno de três mil metros quadrados de área expositiva climatizada. As instalações poderão utilizar desde pequenos recintos, para obras que requerem ambientes controlados, a salões com altura livre de até 12 metros, para exposições de grande porte.

Esses salões serão amparados por uma série de espaços de serviços, que vão permitir, ainda, o desenvolvimento de pesquisas, palestras e ações educativas em geral. Completam o projeto do museu um auditório com capacidade de 225 lugares, uma biblioteca e um café.

O conjunto arquitetônico projetado tem como característica central a valorização do entorno paisagístico e histórico da cidade. A estrutura passará a ideia de leveza. O arquiteto decidiu suspender os edifícios do solo, de modo a permitir visuais livres e desimpedidos, desde a praça até paisagem ao redor. O visitante contemplará através de janelas e rampas envidraçadas o Convento da Penha e a Terceira Ponte.

Os dois edifícios que compõem o conjunto arquitetônico do Cais das Artes serão implantados em uma grande praça, que será uma extensão do museu e do teatro, pois ela abrigará eventos ao ar livre, como exposições e até encenações.

Paulo Mendes da Rocha

Paulo Mendes de Rocha é capixaba de Vitória, radicado em São Paulo. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie de São Paulo, em 1954.  Ele assumiu nas últimas décadas uma posição de destaque na arquitetura brasileira contemporânea, tendo sido agraciado em 2006 com o Prêmio Pritzker, a mais importante premiação da arquitetura mundial.

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