05/02/2024 13h15 - Atualizado em 05/02/2024 15h06

LICC: Mais de 150 socioeducandos participaram das oficinas de quadrinhos do projeto Narrativas Periféricas

As oficinas foram realizadas ao longo da segunda quinzena de janeiro com 151 jovens (Foto: Karlili Trindade)

Ao todo, 151 jovens das 12 unidades socioeducativas do Estado foram atendidos pelas oficinas de quadrinhos do projeto Narrativas Periféricas, realizadas ao longo da segunda quinzena de janeiro e encerradas na última sexta-feira (02).

As atividades foram ministradas por jovens que participaram da primeira etapa do projeto, que consistiu em uma formação em quadrinhos, em outubro de 2023, voltada para as juventudes indígena, negra, periférica e da comunidade LGBTQIA+. Cada oficineiro recebeu uma bolsa no valor de R$ 1,2 mil para dar aulas aos socioeducandos.

“Os educadores falaram de suas referências e das identidades que fazem parte da construção das ilustrações e de suas histórias. Eles abordaram técnicas básicas de desenho e elementos básicos dos quadrinhos, além de dicas de como construir uma narrativa. Tudo isso foi feito com muita música, o que estimulou a criatividade, a atenção e, principalmente, transportou os jovens para fora do cárcere. Durante as aulas, os jovens montavam uma playlist da escolha deles”, conta a coordenadora do projeto, Karlili Trindade.

Segundo ela, criar histórias em um ambiente com tantas privações foi um desafio para os socioeducandos. “Mesmo que eles não soubessem desenhar, ao final das aulas eles produziram muitos desenhos”, acrescenta.

As oficinas foram aprovadas pelos jovens. Um participante da Unidade de Internação Provisória Sul (Unip Sul), em Cachoeiro de Itapemirim, afirma que nunca tinha pensado em trabalhar com desenho, mas agora vislumbra essa possibilidade. “Se eu puder, quando sair vou fazer mais”, diz.

Além de uma possibilidade profissional, os socioeducandos encontraram na atividade um modo de expressar o que pensam e sentem por meio dos desenhos. “É uma iniciativa inspiradora, pois incentiva vários adolescentes a seguirem os caminhos que gostam e ajuda a aliviar o psicológico”, ressalta um socioeducando da Unidade de Internação Sul (Unis), também em Cachoeiro de Itapemirim.

Antes de serem realizadas nas unidades socioeducativas, as oficinas ocorreram também na Associação Indígena Tupiniquim e Guarani (AITG), localizada na Aldeia Caieiras Velha, em Aracruz, onde foi ministrada pela jovem indígena Daniela Claudino de Matos, que participou da primeira formação, em outubro passado. Na aldeia, o conteúdo da oficina teve como foco a perspectiva indígena associada aos quadrinhos, na construção de narrativas plurais. 

O projeto Narrativas Periféricas é realizado pela Ciclo Escola, com patrocínio da empresa Transportadora Associada de Gás (TAG), viabilizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), da Secretaria da Cultura (Secult). Conta ainda com apoio da AITG, do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) e da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória.

Gibitecas

No início de dezembro, o Narrativas Periféricas encerrou uma de suas etapas, com a entrega de 14 gibitecas nas Unidades Socioeducativas do Espírito Santo, possibilitando aos socioeducandos o acesso à leitura de quadrinhos, mangás, graphic novels, fanzines e cordéis, entre outras produções do universo geek.

A construção das gibitecas envolveu a aquisição de 60 almofadas e pufes, como parte do mobiliário das gibitecas, 163 metros de tatame, 3.600 exemplares para os acervos, além de 450 metros de área grafitada.

Painel com arte de Thiago Balbino em uma das 14 Gibitecas do projeto Narrativas Periféricas (Foto: Ana Luzes)Painel com arte de Thiago Balbino em uma das 14 Gibitecas do projeto Narrativas Periféricas (Foto: Ana Luzes)

Cada gibiteca conta com painéis em grafite pintados por um time de 12 artistas: Karen Valentin, Starley Bonfim, Luhan Gaba, Fredone, ED Brown, Nico, Fel, Thiago Balbino, Camaleão, Jotta, Rudinho e Menoon. Nas unidades de semiliberdade foram realizadas também oficinas de grafite para criar os painéis. Dos 56 socioeducandos que participaram da etapa da pintura, 19 já ganharam liberdade.

O acervo das gibitecas é composto por exemplares doados durante a campanha realizada em Vitória, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares, além de exemplares comprados em sebos, editoras e diretamente com autores negros e periféricos. O objetivo é possibilitar aos jovens que cumprem medida socioeducativa – e representam um recorte específico da periferia – entrar em contato com obras de artistas que também são periféricos, estimulando seu engajamento no universo geek a partir da identificação de seus pares.

Até o final do projeto, será produzida uma coletânea reunindo trabalhos dos alunos da formação e das oficinas, além de uma websérie, a serem lançadas no evento de encerramento, em fevereiro.



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