LICC: documentário aborda a relação das mulheres indígenas de Aracruz com o parto
Em fase de gravações, “Travessia – O parto à margem no Rio Piraquê-Açu” é o novo documentário da capixaba Karol Felicio, que aborda a relação das mulheres indígenas da Aldeia Piraquê-Açu, em Aracruz, com o parto. A produção é realizada com patrocínio da Imetame e da ES Gás, viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), da Secretaria da Cultura (Secult).
Momentos emocionantes marcaram o início das gravações, em setembro. Na ocasião, Karol Felício foi acionada durante a madrugada para registrar o segundo parto de Ara Poty – filha do cacique da aldeia –, bem como o benzimento da criança recém-nascida por uma anciã local. Ambos os episódios fazem parte do documentário.
“Dirigi 120 km até Aracruz e registrei o momento do nascimento do bebê, tradição que vem se perdendo ao longo dos anos”, afirma a diretora. Segundo ela, trazidas ao mundo pelas mãos de parteiras da aldeia, a maioria das mulheres hoje procura os hospitais para darem à luz. “O mais interessante é que esse movimento acontece ao mesmo tempo que os grandes centros se voltam para a humanização do parto, buscando referências no parir ancestral, por exemplo na água ou de cócoras”, acrescenta.
Karol Felício trabalha com fotografias e vídeos de partos humanizados há oito anos. É uma área que, de acordo com ela, busca na ancestralidade todas as referências de respeito e assistência ao parto. Algo que envolve, sobretudo, o respeito à mulher em relação ao modo como ela prefere parir, seguindo os instintos do próprio corpo.
“Sou de Aracruz e frequento há muitos anos algumas aldeias indígenas, onde fiz amigos. Pude observar o movimento das mulheres indígenas buscando partos hospitalares e isso me chamou a atenção. Eu quis saber mais, entender o porquê, pensar em possibilidades, no que elas precisariam para preservar sua tradição e, ao mesmo tempo, me perguntando que suporte estariam recebendo em um hospital. Seus costumes estariam sendo respeitados? A ideia de realizar o documentário partiu dessas observações e questionamentos”, conta ela.
Sua relação com a Aldeia Piraquê-Açu deve-se às relações de amizade construídas ao longo dos anos a partir do respeito mútuo e do cuidado. “Eu já havia visitado algumas vezes e participei de encontros do Sagrado Feminino, momento em que conheci as personagens do documentário que estamos realizando hoje. Tive a oportunidade de registrar a gestação e o pós-parto da primeira filha de Ara Poty e segui com eles em momentos bons e desafiadores, como a pandemia de Covid-19, empenhada em ajudar minimamente com o que estivesse ao meu alcance.”
A segunda etapa das gravações aconteceu durante a segunda quinzena de outubro, período em que a equipe realizou entrevistas com os personagens centrais, registrando também alguns rituais importantes para essa comunidade, como o canto, as rezas, os benzimentos e as ervas. A etapa seguinte envolve a produção de imagens de apoio, utilizando drone, além de outras imagens que vão fechar o documentário.
“Agora, nos bastidores, estamos trabalhando o roteiro e a montagem do filme. Isso porque o roteiro inicial foi uma primeira ideia, mas a história que estamos narrando é uma história viva. Novos fatos surgem e alteram o curso da narrativa. É um documentário fluido, cocriado simultaneamente em conjunto com a realidade que nos é apresentada”, comenta a realizadora.
Para ela, desenvolver essa temática é de suma importância por lançar um olhar atento à preservação desse saber ancestral, um bem imaterial. Consequentemente, vai estimular entre os espectadores a reflexão acerca do assunto. Além disso, a diretora ressalta, é mais importante ainda que os hospitais estejam preparados para receber, acolher e respeitar as mulheres, evitando situações de violência obstétrica (que têm também um caráter étnico).
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