18/05/2018 10h53 - Atualizado em 18/05/2018 10h58

FUNCULTURA: Inscrições abertas para oficinas do projeto "Devorações"

Proposta faz uso da arte e da criação coletiva para denunciar e destruir  racismos, misoginias, LGBTTfobias e outras violências impostas aos corpos não-brancos e desobedientes de gêneros racializados, ao longo da colonização. As inscrições nas oficinas são gratuitas!

Desnaturalizar os gêneros, os sexos e as raças por meio de investigações racionais e sensitivas e subverter o saber colonizado sobre os LGBTT+, especialmente sobre os corpos não-brancos, são alguns dos objetivos do projeto Devorações. Essa iniciativa consiste em uma imersão artística sob o formato de oficinas que serão realizadas em Vitória durante os dois primeiros finais de semana do próximo mês de junho (ver programação completa no final da matéria). Como resultado dessa vivência coletiva será concebido um livro previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano. As inscrições para as oficinas são gratuitas e podem ser feitas através do endereço:  https://goo.gl/forms/6E1M6cGsi126gKLs1

  Fazendo uso de linguagens como a literatura debochada, os autorretratos ficcionais, vídeos com conteúdo explícito de transviadagem e músicas censuradas pela branquidade cisgênera, o projeto Devorações denuncia as políticas de morte e às violências impostas aos corpos e subjetividades não-brancas e não-heterossexuais que compõem a população brasileira. Trata-se de uma resposta raivosa, uma desobediência colonial debochada e artística a essas violências, uma contestação que se alimenta da continuidade do fluxo de ressignificações de injúrias a partir de estratégias de afirmação da vida na diferença.

Idealizadora e coordenadora do Devorações, a artista visual Castiel Vitorino Brasileiro explica que, nessa proposta, a produção de textos, o audiovisual, a colagem, a performance, a fotografia, a psicologia corporal e a produção anticapitalista de livros serão a interface para compreender os processos identitários desencadeados no Brasil e também na América Latina: “até mesmo as viagens dos Estudos Queer ao Brasil serão questionadas para apontarmos os problemáticos usos da categoria Queer em solo brasileiro, além de investigarmos como a chegada desses estudos podem contribuir para a desestabilização do sistemas de hierarquização identitária que asseguram mortes e adoecimentos”.

Neste sentido, opta-se por substituir a palavra “Queer” por “Cuir”. A tradução propositalmente descompromissada segue a forma que se lê queer e almeja uma proximidade com as realidades do Sul global no que diz respeitos aos estudos de sexualidade e que devem ser integrados aos estudos sobre raça, classe e territorialidade, como bem aponta o pesquisador Guilherme Altmayer, em seu recente texto Apontamentos para uma cartografia O cuir/queer como território em expansão” (Revista Select nº 38).

Por compreender a importância de discutir essas temáticas fazendo uso de ferramentas da arte e por perceber que o sistema artístico também contribui para a atualização de racismos, misoginias e LGBTTfobias, o Devorações convoca artistas e co-criadores a materializarem todos esses questionamentos em suas obras - artes marginais, autônomos, acadêmicos, empobrecidos, deslegitimados, desacreditados, injustiçados - pois, dessa forma, é possível produzir corpos, relações e temporalidades mais saudáveis e decolonizadas.  

Oficinas projeto DEVORAÇÕES

Rua José Marcelino de Souza, 175- Edifício da Sociedade São Vicente de Paula, 3° andar - Centro de Vitória/ES (atrás da Catedral Metropolitana de Vitória, em cima do Albergue)

Durante toda a programação, a artista Felipe Lacerda realizará uma ocupação artística com seu projeto de fotografia documental.

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SÁBADO (02/06):

09h - Oficina Corporal Descolonizando Prazeres e Desejos (16 vagas)

Nesta oficina, movimentos corporais serão experimentados a fim de produzirem percepções e sensações que não foram previstas e autorizadas pela branquitude cisheteronormativa. O objetivo é ativar no corpo dos participantes, modos descolonizados de sentir prazer, ou seja, de perceber que os deleites do corpo não se resumem às relações sexuais produzidas com órgãos genitais. Todos nossos órgãos e membros podem produzir prazer. Ao fim da oficina, xs participantes irão escrever e compartilhar relatos sobre a experiência. Tais relatos irão integrar o livro DEVORAÇÕES, caso x participante autorize / Oficineira: Castiel Vitorino Brasileiro.

12h - Almoço

13h30 - Oficina de Produção do Dicionário Antropofágico (20 vagas)

Juntamente com investigações sobre modos errantes de comunicar-se assumidos por pessoas subalternizadas, durante esta oficina será criado um dicionário através de problematizações sobre como a colonização atua através da linguagem. Para isso, palavras serão reapropriadas, modificadas, ressignificadas e recriadas. O  dicionário será publicado no livro do projeto / Oficineiras: Marcela Aguiar e Castiel Vitorino Brasileiro.

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DOMINGO (03/06)

13h - Oficina Cartas aos Femininos (20 vagas)

Como temos lidado com os femininos que nos compõem? Quais afetos temos produzidos com sapatonas, bixas pretas e travestis? Quais mulheres (mães, tias, avós, madrinhas, namoradas, amigas) nos constituem em subjetividade? Quais feminilidades temos produzidos? E como estamos nos relacionando com elas? Como tentativas de responder tais perguntas e de produzir novas questões acerca desse tema,  as participantes serão conduzidos a produzirem cartas a pessoas e a esses femininos. O DICIONÁRIO ANTROPOFÁGICO, feito na oficina anterior, será utilizado para a construção desses textos. Durante a oficina, outras palavras poderão ser criadas, caso não encontre uma que sintetize de algum modo certo afeto que a destinatária lhe produz / Oficineiras: Rucka De Lacaia e Castiel Vitorino Brasileiro

16h - Cineclube Diversidade (atividade aberta ao público geral sem necessidade inscrição prévia)

Exibição de filmes sobre negritude LGBTT

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SÁBADO (09/06)

13h - Imagens Subvertidas e Subversivas: Elaborações Monstruosas para Afundar Embarcações (16 vagas)

“Como elaborar um estado de autonomia dos corpos e converter essa força criadora em autonomia de produção de imagens de si?”, eis a questão que gesta a proposição primária desta oficina. A partir de uma provocação anterior de criação coletiva de imagens, pensaremos e exercitaremos formas de subvertê-las de modo a desconstruir, fantasiar e ficcionar, criando outras possibilidades de corpos a partir de técnicas de colagem e desenho. Para tanto, como construção de imagens de si, a feitura funcionará como um exercício autobiográfico e autoficcional em que primordialmente negaremos as configurações normativas a que nossos corpos pretos LGBT estão condicionados. Espera-se que as imagens resultantes do processo possam compor o corpo do livro e também constituir o acervo pessoal de cada participante / Oficineira: Napê Rocha

16h - REMONTE - SE: Oficina de Produção de Zines (16 vagas)

O zine permite nos comunicar de forma simples. Através da versatilidade que o papel nos permite, usaremos os materiais disponíveis e outros que poderão ser propostos pelos participantes para confecção do nosso zine-corpo, que possui desejo estrondoso de se comunicar, gritar, presentear ou registrar o emaranhado de sensações que atravessam nossos corpos e deixam marcas; que podem ser rasgadas, reestruturadas, cicatrizadas. Identidades remontadas. Nesta oficina os participantes serão convocados ao transbordamento de sensações que foram incitadas e produzidas ao longo do processo de debates/oficinas, também será um momento para troca de ideias, reflexão e resgate de memórias / Oficineira: Rodrigo Jesus e Andressa Quitéria.

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OFICINEIRAS

- Andressa Quitéria -  escritora, desenhista, trançadeira, pintora, oficineira e lésbica. Atualmente fazendo curso no NAAH/S com a intenção de desenvolver e aprofundar técnicas artísticas. Idealizadora do Salão Crespura, em parceria com Andréia Quitéria, co-autora. O projeto visa criar um espaço que trabalhe não só a estética, através das tranças, mas também o empoderamento da mulher negra.

- Castiel Vitorino Brasileiro - terrorista de gêneros racializados. Cartógrafa, fronteiriça, corpo diaspórico. Localiza-se entre a psicologia e a arte. Graduanda de Psicologia pela Ufes. Integrante do Coletivo Kuirlombo e Idealizadora do projeto Devorações.

- Felipe Lacerda -  graduanda em artes visuais pela Ufes. Atualmente vem pesquisando arte Kuir, e partindo de sua própria corporeidade, identidade e estética bixa para produzir trabalhos que atravessam a fotografia, performance e colagem no campo expandido.

- Marcela Aguiar -  travesti, mestiça, graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Espírito Santo. Tem interesse em gênero, sexualidade, informação e comportamento informacional.

- Napê Rocha -  artista visual formado pela Ufes, atualmente é mestranda no Programa de Pós-graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense. Se interessa, pesquisa e vive as relações entre corpos negros e Arte.

- Rodrigo Jesus - artista de rua, poeta marginal. Registra estéticas e táticas de resistência através de fotografias e poesias e cartografa sensações causadas pela cidade, analisando as subjetividades que respiram por nódulos que causam uma fissura no concreto. É um corpo poético em um processo de descolonização, dançando descalço sobre pedras, flores e poemas.

- Rucka De Lacaia - artista visual, performer, poeta e pensadora da bysha. Aspira em seu trabalho experimental cores, distorções, analogias e texturas. Frutinha.

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