O Projeto “Que lugar é este (?)”, desenvolvido no Presídio de Segurança Média II, em Viana, na Grande Vitória, realiza, nesta quinta-feira (17), uma atividade de culminância com a participação da youtuber Rita Von Hunty, que vai ministrar a palestra “A arte como ferramenta de (r)existência”. Além disso, o encerramento da atividade de culminância contará com performance do ator Hudson Braga, do grupo HB de Teatro, que encenará um dos textos do livro “Corpos benzidos em metal pesado”, de Pedro Augusto Baía.

À frente do canal Tempero Drag, no Youtube, com mais de um milhão de inscritos, Rita Von Hunty trata de temas sociais e políticos com uma pitada de humor. Ela é a persona drag de Guilherme de Guilherme Terreri, ator e professor com formação em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e Língua e Literatura Inglesa pela Universidade de São Paulo (USP). Suas áreas de pesquisa incluem Estudos Literários, Estudos Culturais, Estudos de Gênero, Teoria Crítica e Teoria Queer.

O “Que lugar é este (?)” foi idealizado pela escritora e produtora cultural Kátia Fialho. Sua realização está sendo possível via Edital 04/2023 - Valorização da Diversidade Cultural Capixaba com recursos do Fundo de Cultura (Funcultura), por meio da Secretaria da Cultura (Secult).

A iniciativa promove a diversidade por intermédio da literatura, com a formação de leitores e a realização de oficinas de escrita para pessoas LGBTQIAP+ em privação de liberdade no Presídio de Segurança Média II, em Viana. Por meio do projeto, foram disponibilizadas 25 vagas para quem cumpre regime fechado, sabe ler e escrever. As pessoas inscritas participaram de quatro oficinas, sendo duas de leitura e duas de escrita.

Nas oficinas, está sendo utilizado o livro “Corpos benzidos em metal pesado” como referência para a leitura e escrita. A obra conta com 11 contos que tratam de vivências da região norte do Brasil, englobando a floresta, os indígenas, a industrialização, a precarização das cidades, a violência com os desfavorecidos, a desigualdade e a comunhão com a natureza.

O Projeto terá como produto final a publicação de um livro de contos com as vivências dos participantes e busca fortalecer a autoestima, fomentar a ressocialização e romper estigmas associados à população LGBTQIAP+ no sistema prisional. Também está prevista, dentro do projeto, uma palestra virtual com o professor de Direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Doutor Renan Quinalha, referência nos estudos sobre diversidade e direitos humanos.

“O projeto é uma forma de levar fomento à leitura e à escrita para um lugar onde a gente não costuma ver iniciativas desse tipo. A literatura como direito humano pode e deve ser praticada em todo e qualquer lugar. Entendo que as pessoas privadas de liberdade têm muitas histórias para contar, uma potência de vida grande, que podem, inclusive, se reintegrar à sociedade por meio da literatura”, diz Kátia Fialho, que aponta ainda a possibilidade de o projeto estimular o surgimento de novos escritores.

Um Lugar de (e que) fala

Não é a primeira vez que Kátia Fialho atua em um projeto literário com foco em pessoas privadas de liberdade. A escritora é uma das organizadoras da obra Um Lugar De (E Que) Fala, lançada em 2023, que traz crônicas de autoria das detentas da Penitenciária Feminina de Cariacica, no bairro Bubu, juntamente com a jornalista e escritora Elaine Dal Gobbo. Ambas são integrantes da Academia Cariaciquense de Letras (ACL).

As crônicas foram desenvolvidas após oficinas realizadas no presídio, nas quais foi trabalhado o livro “Quarto de Despejo – Diário de Uma Favelada”, livro lido coletivamente junto com as detentas, possibilitando às detentas o acesso à literatura brasileira – em especial, a produzida por uma autora negra e periférica, realidade que se assemelha àquela vivida na pele pela maioria das mulheres em privação de liberdade.

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