11/12/2023 16h13

Comunidades quilombolas do norte do estado lançam filmes em sessões abertas e gratuitas

Um caminhão-cinema equipado com uma estrutura com telona de 9x6 metros, projetores, sistema de sonorização e cadeiras para acomodar os espectadores percorrerá o Território Quilombola do Sapê do Norte, em Conceição da Barra, para lançar – em sessões abertas e gratuitas – os três filmes realizados a partir do entrelaçamento de novas e antigas gerações quilombolas. 

As obras são resultado das oficinas audiovisuais do projeto Cinema de Griô, criado para incentivar a produção e o registro de histórias pelos próprios moradores, difundir esses filmes em circuitos quilombolas, mostras, festivais, contribuir com a preservação, difusão e intercâmbio de tradições, práticas, relatos e memórias das comunidades.

O projeto é realizado pelo Instituto Marlin Azul (IMA) com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 028/2021, da Secretaria da Cultura.

A partir desta segunda-feira (11), às 19h, o circuito será aberto na Praça da Igreja de São Sebastião, em Itaúnas, para o lançamento dos filmes produzidos pelas comunidades, juntamente com a equipe do IMA. As obras são: “O vento não tem morada”, das comunidades de Porto de São Benedito, Porto Grande e Santana; “Abre caminho”, da comunidade do Angelim II; e “Jangolá”, da comunidade do Linharinho.

Na terça-feira (12), às 19 horas, “O vento não tem morada” será lançado na Praça da Igreja de Santo Antônio, em Novo Horizonte. “Abre caminho” e “Jangolá” têm lançamento marcado para quarta-feira (13), no Campo de Futebol do Linharinho. A cada sessão os espectadores poderão assistir não apenas aos filmes realizados pela própria comunidade, mas também às produções das demais comunidades envolvidas. Com isso, pretende-se estabelecer um movimento de trocas, fortalecimento de vínculo e intercâmbio cultural por meio do cinema.

O projeto Cinema de Griô nasceu da inspiração de outro projeto do IMA, o Cine Quilombola, realizado em 2021. A partir dele cada comunidade construiu seu filme-carta para dialogar com outras comunidades em correspondências audiovisuais. 

O Cine Quilombola produziu os seguintes documentários: “Do lado de cá”, da comunidade de Graúna (Itapemirim); “Vamos em batalha”, das comunidades de Cacimbinha e Boa Esperança (Presidente Kennedy); “Era caminho deles”, da comunidade de Pedra Branca (Vargem Alta); “Ninguém canta igual eu canto”, da comunidade de Monte Alegre (Cachoeiro de Itapemirim).

Oficinas

As oficinas de criação envolveram participantes de diferentes idades. Em todos os filmes, o principal dispositivo usado para despertar as memórias e tecer de um modo coletivo o roteiro foi o gesto de escrever à mão uma carta para uma pessoa querida presente, distante ou já falecida. Quem não tinha condições de escrever ditava sua mensagem para alguém que escrevia. 

As cartas despertaram lembranças e sentimentos, trouxeram à tona o que é importante para cada um, o que os une como comunidade, entrelaçando múltiplas visões e ideias, iluminando o caminho para a construção das imagens e sons das obras captados através de câmeras de telefones celulares pelos próprios quilombolas e pela equipe do IMA.

As rodas de conversas, seguidas de gravações, aconteceram nas comunidades de Porto de São Benedito, Porto Grande e Santana, de 20 a 23 de julho; na comunidade do Angelim II, de 26 a 29 de julho; e na comunidade do Linharinho, de 1º a 4 de agosto. Após a apresentação no circuito, os médias-metragens serão inscritos em mostras e festivais, buscando ampliar os espaços de visibilidade dos conteúdos produzidos pelos quilombolas juntamente com a equipe do IMA.

Os documentários

“O vento não tem morada” reúne vivências de três comunidades. As famílias vizinhas e amigas se reuniram para contar e ouvir histórias sobre os jeitos de ser e de viver do lugar, as alegrias, as dores, as formas de lidar com os sofrimentos, os laços de pertencimento e a passagem das tradições entre avós e netos.

O atravessamento das gerações, o elo entre os mais velhos e os mais novos e o registro dos traços culturais, como as práticas populares, em especial o jongo, formam a inspiração para o média-metragem.

Força, luta e resistência para enfrentar e superar as perdas e defender o território perpassam o documentário “Abre caminho”, que volta seu olhar a um pequeno povoamento rural formado por agricultores familiares comprometidos com práticas agroecológicas de cultivo de alimentos para a proteção e preservação das águas e do solo contra a ação da monocultura defendida por grandes empresas na região. A obra também destaca o entrelaçamento de gerações.

“Jangolá” celebra a potência feminina na defesa da terra, das tradições, das crenças e da identidade afrodescendente do Linharinho, lugar que guarda o conhecimento, a sabedoria e os rituais de matrizes africanas, sendo, muitas vezes, alvo de perseguições, do preconceito e da intolerância religiosa. O filme percorre os quintais para reverenciar o culto à memória e às raízes ancestrais e revelar o esforço de mulheres na preservação e na transmissão de saberes e fazeres herdados das matriarcas.



Serviço:

Lançamento de filmes do projeto Cinema de Griô

11/12 (segunda-feira), às 19h

Praça da Igreja de São Sebastião, Itaúnas, Conceição da Barra

12/12 (terça-feira), às 19h

Praça da Igreja de Santo Antônio, Novo Horizonte, Comunidade Quilombola de Santana, Conceição da Barra

13/12 (quarta-feira), às 19h

Campo de Futebol do Linharinho, Comunidade Quilombola do Linharinho, Conceição da Barra



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