Coletivo capixaba Casa Marvix participou de intercâmbio no Rio Grande Sul em torno da cultura ballroom
Entre os dias 12 e 21 de agosto, aconteceu um intercâmbio artístico e cultural entre os coletivos Casa Marvix, do Espírito Santo, e A Feroz Casa de Leopardos, do Rio Grande do Sul, ambos engajados na difusão da cultura ballroom em suas respectivas localidades.
O intercâmbio aconteceu na sede de A Feroz Casa de Leopardos, em Porto Alegre, e as integrantes da Casa Marvix viajaram com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital Circulação e Intercâmbio, da Secretaria da Cultura (Secult), que possibilitou a oportunidade de estudar, debater e praticar a cultura ballroom.
Integrantes da Casa Marvix, Mother Avelã Marvix, Mother Maré Marvix, Princesa Treva Marvix e Eevee Marvix participaram de atividades que envolveram leituras, práticas corporais e criativas, além de debates e outras ações, visando ao enriquecimento de seus repertórios culturais em torno do universo ballroom.
O objetivo foi, sobretudo, desenvolver habilidades interpessoais, criar redes de apoio e profissionalização mútua, construir conhecimento e exercitar o pensamento crítico e criativo, tendo como base as trocas de experiências.
As leituras realizadas durante o intercâmbio cultural focaram nos estudos de gênero e sexualidade e no modo como esses temas se desdobram dentro do universo da cultura ballroom. Embora essas leituras tenham sido importantes no intercâmbio, a Casa Marvix entendeu que focar no conhecimento transmitido oralmente, no contexto da cena ballroom gaúcha, seria mais enriquecedor – o que motivou a realização de encontros permeados por diálogos e debates.
Visões de mundo
De acordo com Mother Avelã Marvix, promover a imersão da Casa Marvix em outro contexto, com construções diferentes, possibilitou ao grupo expandir suas visões de mundo e sobre o universo ballroom. “Foi uma experiência profundamente enriquecedora, por termos a oportunidade não só de compartilhar nossos conhecimentos, mas também de absorver novas informações durante as oficinas que ministramos e as discussões das quais participamos, como nos momentos de rodas de conversas”, ressalta.
Segundo ela, a experiência de intercâmbio ultrapassou os limites de diálogo com A Feroz Casa de Leopardos, alcançando relações de trocas com outros coletivos e pessoas de Porto Alegre. “Um exemplo notável foi a colaboração com a Casa de Audácia, majoritariamente formada por homens trans e identidades transmasculinas. Tivemos a oportunidade de compartilhar treinamentos, dinâmicas e estudar sobre diferentes categorias da cultura ballroom”, acrescenta.
As experiências de interlocução possibilitaram ampliar repertórios e visões de mundo (Foto: Divulgação)
A integrante Eeve Marvix afirma que o intercâmbio propiciou-lhe acesso a vivências e regionalidades que, de outra forma, não lhe seriam acessíveis. A partir da imersão em um ambiente novo, até então desconhecido, desenvolveu uma nova perspectiva sobre o mundo.
“Foi uma experiência única, que superou todas as minhas expectativas. Pude perceber que, por mais que a cultura ballroom seja entendida como única, ela é perpassada pelas peculiaridades de cada região. Essas coisas são impossíveis de ignorar. Sem dúvida minha percepção da cultura foi ampliada. Além disso, aprendi muito sobre mim e sobre os meus. Já não sou a mesma pessoa depois dessa viagem”, pontua.
O primeiro contato entre a Casa Marvix e A Feroz Casa de Leopardos, relembra Princesa Treva Marvix, aconteceu em maio de 2023, durante a Genesis Ball – festa produzida por Benjamin Avalanx, em Belo Horizonte, Minas Gerais. “Na ocasião, notamos afinidades entre os coletivos e a possibilidade de expandirmos nossos conhecimentos sobre a ballroom. Depois de algumas conversas on-line, a Mother Ávine Leopardo convidou a Marvix para integrar o circuito da Safari Ball, em Porto Alegre”, conta.
Inteiramente dedicado à cultura ballroom, o circuito da Safari Ball abrangeu momentos de reflexões, workshops e sessões de improvisação em grupo. A Casa Marvix teve particição ativa no evento, oferecendo uma oficina de Runway e Old Way com a Mother Maré Marvix, além de uma oficina de Vogue Femme, com a Mother Avelã Marvix. Além dessas atividades, a presença do coletivo capixaba se destacou ainda pela participação nas rodas de conversa “Ballroom e a importância do acolhimento das pessoas trans” e “A ballroom na Ong Somos”.
Participação da Casa Marvix na Safari Ball durante o intercâmbio em Porto Alegre (Foto: Gabi Lazarrini)
Casa Marvix
Desde 2017, a Casa Marvix estabeleceu-se como um coletivo artístico e cultural engajado na difusão do universo ballroom no Espírito Santo. As atividades tiveram início quando Founder Casyure Marvix e Imperador Arthur Marvix começaram a realizar treinos de voguing nas orlas de Vitória, como uma proposta de intervenção urbana. Do mar de Vitória, também conhecida por Vix, vem o nome Marvix.
Muito embora as movimentações dentro da cultura ballroom já fossem parcebidas desde 2017 e 2018, foi somente a partir de 2022 que passou a ganhar adesão, no estado, difundindo-se e popularizando-se com as movimentações em torno da Casa de Boneketys e do coletivo Espírito Kunty, além da realização do evento “O Primeiro Baile do Espírito Santo”, que aconteceu no Bermudas Bar, em Vitória.
O coletivo desempenha um papel fundamental no empoderamento da comunidade LGBTQIA+, preta e periférica. Como a cultura ballroom é conhecida por criar ambientes seguros para a celebração da diversidade sexual, de gênero e raça, a Casa Marvix atua para ampliar essas ações, promovendo a visibilidade e a valorização das diversidades dentro e fora da comunidade envolvida.
Para as integrantes da Casa Marvix, após essa experiência de intercâmbio em Porto Alegre, o coletivo está mais fortalecido e capacitado para continuar suas ações de fomento da cultura ballroom em Vitória.
Cultura ballroom
Nascida em meados das décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos – mais precisamente em Nova York –, a cultura ballroom foi criada a partir de encontros e eventos realizados pelas comunidades LGBTQIA+ negras, latinas e periféricas, que passavam por processos de extrema subjugação e marginalização de seus corpos. Os bailes foram, pouco a pouco, tornando-se lugar de resistência, de construção de novas realidades e de emancipação dos corpos dissidentes, ante a hegemonia branca cisheteronormativa da época.
Desse modo, a cultura ballroom – ou cultura dos bailes, em português – é um movimento político, artístico, social e cultural de ocupação de espaços, de disputas de poder, da construção e reconstrução de novas realidades e também de celebração da diversidade de gênero, sexualidade e raça. Danças, performances, música, moda e coletivos de acolhimento, chamados “houses” (ou casas), fazem parte desse universo. Os bailes, ou “balls”, são o evento principal da cultura ballroom, em que a comunidade se encontra para levantar reflexões importantes, competir de maneira performática, além de celebrar e pôr em destaque os seus corpos.
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