Teve início nessa quarta-feira (14) o ciclo “Desnaturada: Chamado Ancestral”, no Parque Cultural Casa do Governador, em Vila Velha. Com curadoria do líder indígena Ailton Krenak e do escritor e gestor cultural Fabiano Piúba, o ciclo propõe uma reflexão sobre a Terra e os saberes ancestrais como caminhos possíveis para a reconstrução da relação entre humanidade e natureza.

O primeiro dia contou com uma vivência de práticas indígenas tradicionais, seguida de uma roda de conversa de abertura entre os curadores, mediada pelo secretário de Estado da Cultura, Fabricio Noronha. À noite, aconteceu o lançamento do livro “Desnaturada: Cultura e Natureza”, de Krenak e Piúba, com uma sessão de autógrafos. Simultaneamente, houve a experimentação “Alimentação Capixaba”, realizada pelo chefe Murilo Goés.

O momento de demonstração das práticas indígenas tradicionais foi conduzido pelo coletivo Taba Oiepengatu. Durante a vivência, eles mostraram como usam arco e flecha, zarabatana e lanças nas competições, e como realizam jogos como a Corrida com Tora e o Cabo de Guerra. 

O encontro, que integra a programação do Parque, nos eixos arte, sustentabilidade e educação, é uma realização do Instituto ArteCidadania (IAC) e do Governo do Estado do Espírito Santo, por meio da Secretaria da Cultura (Secult).

Durante a abertura, os curadores destacaram a urgência de rever a ideia de “civilização” a partir de uma escuta do que foi historicamente silenciado. “Essa experiência cultural do século XX, que avançou tanto e chegou no século XXI, produziu uma abstração de cultura, uma coisa tão impressionante, que quase que antecipa essa ideia do mundo virtual, em que as tecnologias de informação hoje tentam capturar a gente, o nosso imaginário, como se pudéssemos ter um outro mundo que não é a terra, que não tem chão. [...] A aculturação é elemento vivo desse vasto ambiente que nós chamamos de cultural. Interessante que eu muito cedo comecei a desconfiar da validade dessa ideia de uma cultura no sentido universal, que podia vir lá dos gregos, de qualquer outra origem, mas que era universal e que um dia todos nós estaríamos dentro”, explicou Ailton Krenak.

Fabiano Piúba iniciou a conversa utilizando referências da terra dos escritores Davi Kopenawa e Bell Hooks, além dos próprios dizeres de Krenak.  “Eu estou trazendo aqui uma outra percepção, outra metáfora, de que a terra toca. Ou seja, quando a gente traz essa proposta de curadoria de chamado ancestral, é entender de que sonhar, falar, tocar e amar a terra, é aprender com essas ancestralidades. E, por isso, eu imagino que tem um chamado ancestral que é cultural, mas também tem um chamado ancestral que é da natureza”, disse.

O secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, destacou a importância de iniciativas como o ciclo Desnaturada. “Essas iniciativas visam ampliar o repertório crítico da sociedade capixaba e promovem encontros com vozes fundamentais do pensamento contemporâneo”.

A programação do ciclo segue nesta quinta-feira (15) e sexta-feira (16), com rodas de conversa, apresentações culturais, vivências e oficinas. A participação é gratuita, com inscrições abertas no site parquecasadogovernador.com.br/desnaturada. Os encontros também estão sendo transmitidos ao vivo pelo Youtube nos canais do Parque Cultural Casa do Governador, Secult e TVE Espírito Santo.

Serviço

Desnaturada: Chamado Ancestral

Data: 15/05 (quinta-feira) e 16/05 (sexta-feira)

Entrada gratuita: retirada de ingressos no site parquecasadogovernador.com.br/desnaturada e no link da bio do Instagram do Parque (@parqueculturalcasadogovernador)

Programação

15/05 (quinta-feira)

Parque Cultural Casa do Governador 

15h - Oficina: Monotipia

Equipe Educativa do Parque Cultural Casa do Governador: educadores Juliana Galvão e Maria Luíza Galacha.

Esta oficina convida os participantes a mergulharem no universo da monotipia, uma técnica de gravura única e expressiva, utilizando a riqueza de cores e texturas que a natureza oferece.

Inscrições: https://docs.google.com/forms/d/16tiHD1sHzIgQP9T6_bOru3bJiABU07a-A6Yc5YP5ZJE/edit?usp=forms_home&ths=true

15h - Visita Mediada no Parque

Equipe Educativa Parque Cultural Casa do Governador: educadores Laira Aquino e Guilherme Brasil.

Visita mediada especial, abordando a diversidade étnico-cultural dos povos originários por meio de obras que atravessam esse universo.

Inscrições: https://docs.google.com/forms/d/1-IXl_-M08RwRMNTSXWaGYoPS2Lt-EY6kw1gZViaZxTQ/edit

17h - Roda de conversa com Gessi Cassiano (liderança quilombola), Maria Laurinda Adão (Caxambu Santa Cruz), Monge Kendo (Mosteiro Zen Budista)  Jocelino Tupinikim (liderança indígena): “Reflorestania: saberes ancestrais como vivências e tecnologias vitais de preservação e conservação da biodiversidade e dos ecossistemas”. Mediação: Anna Dantes (Associação Selvagem)

19h - Apresentação: Caxambu Santa Cruz

19h30 - Roda de Conversa com Fábio Scarano (professor doutor em ecologia), Nurit Rachel Bensusan (bióloga e escritora) e Ailton Krenak: “Regenerantes de Gaia e o letramento do futuro”. Mediação: Sérgio Lucena (INMA/MCTI)

16/05 (sexta-feira)

Parque Cultural Casa do Governador 

15h - Oficina: Entre o barro e o Parque

Equipe Educativa do Parque Cultural Casa do Governador: educadoras Guilherme Brasil e Laira Aquino.

A partir do barro coletado no Parque, os educadores propõem uma oficina de experimentações entre a terra e outros materiais naturais.

Inscrições: https://docs.google.com/forms/d/1dKJpLjAIXO9F9N1pXBR1k5OIyGRPRd9FfrXTFKVsrC4/edit

17h - Apresentação musical: Coral Tape Retxã'ka

Lançamento do Álbum Djagwata Porã

18h - Conversa com Ailton Krenak, Marcelo Guarani Werá Djekupé e Sidarta Ribeiro: “A Terra que sonha e fala, está escutando tudo”. Mediação: Ana Laura Nahas

20h - Conversa com Tiganá Santana, Ailton Krenak e Fabiano Piúba: “Mata adentro: o chão e o céu dos espíritos da floresta”.

21h - Fala de encerramento com Ailton Krenak, Fabiano Piúba e Fabricio Noronha

Sobre o Parque Cultural Casa do Governador
Inaugurado em maio de 2022, o Parque Cultural Casa do Governador está localizado na Residência Oficial do Governo do Estado e apresenta uma vasta programação estruturada em três eixos complementares: arte, sustentabilidade e educação.

Foi concebido como um espaço dedicado à valorização da produção cultural local e também é reconhecido como a maior galeria de arte ao ar livre do Espírito Santo, com um acervo de 32 obras, sendo 22 permanentes e 10 temporárias, incluindo esculturas, instalações e projetos específicos para o lugar.

Com uma área de 93 mil metros quadrados, o parque é gerido pelas Secretarias da Cultura (Secult) e do Governo (SEG), por meio do Instituto ArteCidadania (IAC). Aberto gratuitamente ao público de terça a domingo, promove uma interação única entre arte contemporânea, natureza e atividades educativas. 

Conta com patrocínio ouro da EDP e patrocínio prata do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, e patrocínio prata da ArcelorMittal.

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