Funcultura: documentarista investiga memória, imagem e saúde mental com o filme “Minha Bê”
Uma foto, um nome e memórias difusas da infância. No documentário “Minha Bê”, a diretora Adriana Jacobsen busca por Beatriz, que trabalhou na casa de sua família como babá, nos anos 1960, e após um surto foi internada no extinto Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em Cariacica. A pré-estreia acontece na próxima terça-feira (11), às 9h, no Cine Metrópolis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória.
No filme, a diretora reencontra a única foto que tem de sua babá e não a reconhece. O documentário, então, investiga a história de Beatriz e o processo de desaparecimento de alguém da memória pessoal e coletiva. Nessa investigação, o espectador é levado pela narração da própria diretora e imagens de arquivo das décadas de 1960, 1970 e 1980 que se mesclam com depoimentos atuais.
O ponto de partida é a entrevista com o médico psiquiatra, psicanalista e escritor Ruy Perini. Ele trabalhou no hospital em que Beatriz foi internada e ambienta cenários possíveis para o transtorno vivido por ela – e para que Adriana possa percorrer os rastros deixados pela própria memória.
Desse momento em diante, o filme parte em busca de pessoas que poderiam ter convivido com Beatriz e chega à Roda D’Água, zona rural de Cariacica, local onde a diretora sabia que a babá possuía familiares.
“Minha Bê” também contou com imagens de acervos familiares, da Cinemateca Brasileira e da TVE Espírito Santo. “Há muito queria relembrar a história dessa mulher que fez parte da minha infância e que de repente sumiu da minha vida, mas que ficou na minha memória. Era uma ausência sempre presente. Nunca deixei de pensar na Beatriz”, afirma Adriana.
A diretora percebeu que aquela era não apenas sua própria história, mas também uma história exemplar sobre as relações de poder na sociedade brasileira. “Eu queria deixar isso registrado e reencontrei o Lucas Bonini, com quem já tinha trabalhado antes. Ele é um entusiasta do arquivo e buscamos criar no filme uma espécie de atmosfera que de alguma forma remetesse à minha memória das décadas em que a história se passa”, explica, fazendo menção a seu parceiro de projeto, com quem assina em conjunto a produção e a montagem do curta-metragem.
Narrativas de uma mesma história
Além da premissa do documentário, “Minha Bê” expõe os resquícios escravocratas por trás da contratação de empregadas domésticas que se viam obrigadas a renunciar à própria vida para se dedicar à dos patrões.
“A história se passa em uma época na qual as mulheres que trabalhavam como empregadas domésticas tinham quase nenhum direito e muitas vezes moravam na casa dos empregadores. Imagine as consequências disso para a psique de uma pessoa, que é obrigada pelas circunstâncias a renunciar a seus próprios desejos em prol de uma família que não é a sua. Creio que minha visão, meu testemunho, é importante porque vivi isso na infância, com pouco filtro, com o olhar curioso e de espanto de uma criança”, pontua Adriana.
O filme também revela uma nítida mudança no trato das doenças mentais ao longo dos anos. Esses temas serão discutidos na sessão de pré-estreia da obra, durante a Semana Calórica de Psicologia da Ufes.
“O documentário dá voz a um médico e uma enfermeira que trabalharam muitos anos no sistema de saúde mental do Estado. Eles contextualizam bem o tratamento de doentes mentais no fim do século passado. A exibição será seguida de um debate e creio que a exibição pode levantar questões bem relevantes para os alunos de Psicologia. Vai ser um primeiro teste de reação ao filme em uma sala de cinema, estou muito curiosa”, ressalta a documentarista.
O filme “Minha Bê” é produzido pelo Instituto Marlin Azul e realizado com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria da Cultura, por meio do edital de produção de documentários.
Sobre a diretora
Adriana Jacobsen é realizadora audiovisual, licenciada em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo, graduada e mestre em Ciência da Comunicação pela Universidade Livre de Berlim. Codirigiu o premiado documentário “Outro Sertão”, sobre a estadia de João Guimarães Rosa na Alemanha nazista. Em 2023, codirigiu a minissérie “Fato e Versão”, sobre fotojornalistas capixabas.
Sinopse
“Minha Bê” parte da dissonância entre a representação e a memória. A diretora reencontra a única foto que tem de sua babá e não a reconhece. Narração, imagens de arquivo das décadas de 1960, 1970 e 1980 e depoimentos atuais se mesclam na investigação por vestígios de Beatriz. Participação: Ruy Perini, Maria Lopes, Anita e João Falcão, Nete e Daniel Falcão.
SERVIÇO
Pré-estreia de “Minha Bê”
Quando: 11/04 (terça-feira)
Horário: às 9 horas
Local: Cine Metrópolis, campus da Ufes, em Goiabeiras, Vitória
Entrada gratuita
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