Exposição Coração da Casa: a comida dos orixás e a identidade afro-brasileira

Proposta expositiva quer refletir sobre a importância do patrimônio imaterial presente na culinária votiva e na memória gustativa dos terreiros de Candomblé
Reconhecer o modo de preparo e a relação sagrada com o alimento enquanto patrimônio intangível que faz parte da identidade afro-brasileira é o que propõe a Exposição Coração da Casa, que será aberta no próximo dia 20 de setembro, no Raiz Forte Espaço de Criação, no Centro de Vitória-ES. Por meio de registro visuais (fotografia, vídeo e outros objetos), essa proposta expositiva narrará o modo de feitura do Akará, o popular acarajé, comida ritual da orixá Iansã.
Além das visitações, essa iniciativa contará com rodas de conversa sobre patrimônio cultural, cultura afro-brasileira e diversidade religiosa, e com uma programação especial na abertura e no encerramento. Toda as atividades são abertas ao público.
A Exposição Coração da Casa busca promover a valorização do saber em torno da culinária dos orixás e foi resultado de uma oficina de preparo do acarajé realizada no último mês de agosto, onde cerca de 30 participantes acompanharam, durante um dia inteiro, a rotina de uma casa de Candomblé. Essa atividade vivencial foi sediada no Ilè Asé Odé T’Ojú Òmó - Casa do Caçador, em Praia Grande, Fundão-ES, espaço religioso e ponto de memória.
Valorização cultural do Candomblé
A cultura ancestral afro-brasileira tem no Candomblé um dos principais sítios de sua expressão e preservação. Os saberes, os valores, a estética e a espiritualidade dos diversos grupos étnicos que para cá vieram através da diáspora se mantêm vivos nas práticas e no cotidiano das casas de santo. A cozinha é o espaço de maior interação nos terreiros de Candomblé. Ali se elabora, de modo comunitário, o alimento votivo - a comida dedicada aos orixás. Sua feitura demanda o trabalho coletivo dos filhos da casa, seja para atender às demandas das funções internas ou para a preparação das festas abertas à comunidade, que têm como característica a receptividade carinhosa e a fartura de alimentos aos visitantes.
São consideradas patrimônio cultural imaterial as práticas cotidianas, as expressões de vida, os modos de fazer, as manifestações artísticas, as celebrações, os rituais e os lugares onde acontecem as práticas culturais coletivas. São as tradições e os conhecimentos que comunidades, grupos e indivíduos herdam de seus antepassados e passam para as gerações seguintes. Expressão atualizada dessas raízes e uma das relações primordiais com o sagrado, o preparo do alimento dos orixás - iguarias que representam a ligação entre os seres humanos e seus deuses - é um saber-fazer transmitido no ambiente da cozinha: o Coração da Casa.
Sobre o acarajé
O akará, mais popularmente conhecido como acarajé, é um alimento que representa bem a ancestralidade e a importância das comidas de orixá enquanto repositório da memória ancestral. O acarajé veio com os escravos nagôs das regiões iorubás da Nigéria e do atual Benin, em terras brasileiras era oferecido às divindades nos emergentes terreiros de candomblé da Bahia desde o início do século XIX, e tomaram as ruas e o domínio público com os tabuleiros das baianas.
Comida ritual da orixá Iansã, ou Oiá, o acarajé tem origem na junção de duas palavras do iorubá: “Akàrà”, que significa “bola de fogo”, e “jé”, comer. Considerado uma comida sagrada pelas baianas, quituteiras cujas primeiras representantes eram africanas alforriadas do Brasil Colônia e cujo ofício foi reconhecido como patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005.
O projeto Coração da Casa conta com recursos do Fundo Estadual de Cultura do Espírito Santo, por meio do Edital nº 05/2016 - Seleção de Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Pontos de Memória, e com o apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Ufes (NEAB) e do Raiz Forte Espaço de Criação. A realização é do coletivo cultural Iaoto - organização com 10 anos de existência e que busca promover o reconhecimento dos saberes ancestrais vinculados às religiões de matriz africana, especialmente ao Candomblé.
SERVIÇO - Exposição Coração da Casa
Local: Raiz Forte Espaço de Criação
Escadaria do Rosário, nº 120 - Centro de Vitória-ES
PROGRAMAÇÃO
1ª Semana
20/09 (quarta-feira) / Abertura - 19 às 22 horas
21/09 (quinta-feira) - das 13 às 18 horas - visitação de escolas
22/09 (sexta-feira) - das 13 às 18 horas - visitação de escolas
23/09 (sábado) - das 16 às 20 horas / Roda de Conversa: Patrimônio Imaterial - Convidados: Babalorixá Gildo de Oxóssi e Fernanda Barbosa - historiadora e mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Espírito Santo
2ª Semana
27/09 (quarta-feira) - das 15 às 17 horas / Roda de Conversa: Orixás, alimento e ancestralidade - Convidados: Babalorixá Gildo de Oxóssi, Coletivo Soy Loco por Ti e FASE - Campanha Nenhum Poço a Mais
28/09 (quinta-feira) - das 8 às 12 horas - visitação de escolas
29/09 (sexta-feira) - das 8 às 12 horas - visitação de escolas
30/09 (sábado) - das 16 às 20 horas / Encerramento com performance étnico religiosa "Akará L'Oyá", do Coletivo Iaoto
Todas as atividades têm entrada franca!
Exposição Coração da Casa / Ficha Técnica:
Coordenador geral: Babalorixá Gildo de Oxóssi
Produção Executiva: Cristina Magdalena
Assessoria de comunicação: Paulo Gois Bastos
Assessoria pedagógica: Fabiulla dos Santos
Montagem: Coletivo Iaoto
Fotos: Clésio Júnior
Vídeo: Luara Monteiro