10/02/2023 12h58 - Atualizado em 10/02/2023 14h40

Centésima exposição do MAES, ‘Anticorpos’ propõe reflexão sobre história e memória na superfície do corpo

 

Trabalhos dos artistas Juliana Pessoa e Luciano Feijão estão em exibição no Centro de Vitória até o dia 23 de abril, com entrada franca. 

 

Em 24 anos de história e atividades, o Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (MAES) chega na centésima exposição, com a apresentação de “Anticorpos”, um projeto dos artistas Juliana Pessoa e Luciano Feijão. O desenho, o traço, o gesto, o rasgo e a fenda são as manifestações em que os artistas desenvolvem possibilidades artísticas, em contraste com uma ideia formal e hegemônica dos corpos. Esses embates estão delineados no recorte racial apresentado pela exposição“Anticorpos”, que foi selecionada pelo Edital Setorial de Artes Visuais 020/2020, do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), da Secretaria da Cultura (Secult). A exposição dá início à programação do MAES em 2023.


O pesquisador e arquiteto urbanista Leonardo Izoton Braga analisou os detalhes e nuances do trabalho realizado pelos artistas Juliana Pessoa e Luciano Feijão em “Anticorpos”:
 

(*) “Entre o espectro e a carne: inscrições corporais em diálogo na superfície do museu”

 

Acontece no Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (MAES) a exposição "Anticorpos", dos artistas Luciano Feijão e Juliana Pessoa, que apresenta uma série de trabalhos individuais, postos em diálogo na superfície do museu, em que corpo e desenho se tocam e se expandem.


O trabalho de Luciano é carnal, muscular e visceral. Se afirma nas inscrições desenhadas e nas incisões sobre o papel. Ele nos coloca diante da carne tensa, quente e pulsante das figuras corpóreas, que se exibem nas fendas, torções e esforços, ora revelando ações, rituais e fugas, ora fraturas, fragmentos e dilaceramentos. Os corpos inscritos nunca são passivos, mas agem e reagem sobre si, sobre as outras figuras, sobre o próprio artista, numa autópsia arqueológica e criativa. Instaurando um presente ancestral, o artista nos convida para uma desconstrução da norma, fundando uma atmosfera ‘antianatômica’, em que a reabertura do corpo e a rasura da história apontam para uma reinvenção do futuro forjada na violência, nas práxis antirracista e afirmativa da arte e da vida. O resultado é uma série de experimentações sobre, com e contra o corpo que atingem o público em seu tecido profundo: a carne.


Diferentemente, o trabalho de Juliana tem um caráter espectral, indiciário e atmosférico, suas formas em formação se encontram em uma zona limiar, indicando uma dificuldade e insistência de inscrição, como se pedissem passagem, teimassem em se fazer presentes. Retratos, danças e gestos surgem a partir dos rastros, pressões e fricções produzidas pela artista em páginas de livros, papéis de pequenos e grandes formatos. 

Seu desenho tem algo de mineral, os traços se desdobram como se abrissem brechas a golpes de cinzel, operando uma abertura dimensional que confere uma materialidade inconclusa aos espectros que apresenta. Ao percorrermos a galeria, somos magnetizados e forçados a viver instantes de pausa, de estranha contemplação, nos quais os traços-rastros exigem um outro tempo de tensa atenção. Seu trabalho é áspero e sensual, soturno e solar, intenso e fugaz, uma zona de inscrição de presenças ausentes. 

Ambos os trabalhos intervêm, quase que diretamente, na superfície branca do museu. As obras são dispostas cruas e abertas, tramando um diálogo sobre uma expografia precária, o que não é nenhum demérito, à medida que parece ser uma opção sensível e materialista, que dessacraliza o espaço museal.
Apesar da diferença do estilo e da espacialidade do trabalho de cada um, corpos e espectros se misturam, formando um tecido de inscrições corporais de graus, histórias e intensidades diversas. Portanto, se a exposição se chama ‘Anticorpos’, me arriscaria a dizer que estes corpos se contrapõem às normas e aos padrões das corporalidades hegemônicas, pois o que vemos são esboços e afirmações da potência infinita dos devires corporais. Por fim, temos, então, uma coleção de desenhos-bisturis, que fazem incisões sobre o real, colocando em ação uma reflexão radical sobre corpo, criação e presença”.

 

* Leonardo Izoton Braga é Arquiteto Urbanista pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Créditos da foto: Bruno Zorzal e Tom Boechat

Serviço:

Exposição “Anticorpos”


Local:
Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo (Maes) - Avenida Jerônimo Monteiro, 631, Centro, Vitória.


Visitação:
até o dia 23 de abril


Dias e horários:
de terça-feira a sexta-feira, das 10h às 18h. Sábados e domingos, das 10h às 16h. 


Contato:
3132- 8390/8393. E-mail: maes.comunicacao@gmail.com.

Gratuito.



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