Matheus Nachtergaele é o grande homenageado do 22º Festival de Cinema de Vitória
Personagens intensos cujas vidas ficcionais explicitam, quase sempre, um mundo tragicômico são comuns na trajetória do ator Matheus Nachtergaele, que é o grande homenageado do 22º Festival de Cinema de Vitória. No dia 14 de setembro, Matheus participará de uma coletiva de imprensa onde falará sobre sua trajetória artística. Na ocasião, será lançada uma publicação com reportagem e fotos de sua carreira e, no mesmo dia, à noite, ele subirá ao palco do Theatro Carlos Gomes para receber o abraço do público. O 22º Festival de Cinema de Vitória será realizado de 11 a 16 de setembro, na cidade de Vitória, no Espírito Santo.
Com 46 anos, completos no último mês de janeiro, e, com quase metade de sua vida dedicada ao ofício de ator, o paulistano Matheus Nachtergaele tem reconhecimento de público e crítica, além da classe artística, que o considera um dos atores mais representativos da sua geração. A intensidade também define seu ritmo de trabalho, que, desde o início de sua carreira, em 1997, contempla o teatro, o cinema e a televisão, já contabilizando mais de 60 produções em seu currículo.
Foi no teatro que iniciou sua carreira como ator, quando, em 1990, entra para o Centro de Pesquisas Teatrais de Antunes Filho, em São Paulo. Mas foi em 1991, quando cursava a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo, que participou da montagem do texto alemão “Woyzeck”, de Georg Büchner. Resultado de uma oficina para atores iniciantes, a montagem contou com a direção de Cibele Forjaz.
Em 1992, passa a fazer parte do Teatro da Vertigem, companhia inovadora dirigida por Antônio Araújo. Nesse grupo, Matheus é reconhecido como Melhor Ator pelo Troféu Mambembe, pelo Prêmio Shell e pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por sua atuação como protagonista de “O Livro de Jó”. Encenado de forma itinerante em diversos hospitais a partir de 1995, o espetáculo teve grande repercussão de público e foi um marco na carreira do ator.
Em 1998, Matheus participou da montagem “Da Gaivota”, peça em que dividiu o palco com Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Antônio Abujamra, Nelson Dantas e Celso Frateschi, com direção de Daniela Thomas. Dois anos depois, é dirigido por Paulo José, que também fez parte do elenco, em “A Controvérsia”. Em 2002, interpreta o protagonista de “Woyzeck, O Brasileiro”, em uma nova montagem do texto, mais uma vez, sob a direção de Cibele Forjaz.
Um ator de cinema
O reconhecimento nos palcos rendeu o convite para Matheus fazer parte do elenco de “O Que é Isso, Companheiro?”, de Bruno Barreto, longa-metragem de 1997. Adequar-se a interpretar para uma câmera não foi tarefa muito difícil para o ator, já que sua origem veio a partir da vivência de um teatro não convencional, especialmente no Teatro de Vertigem. “A gente não trabalhava em palco italiano, minha interpretação possuía uma dilatação épica, no caso da peça ‘O Livro de Jó’, mas também exigia uma proximidade com o público, havia pessoas a um ou a dois metros e outras mais distantes. Para a lente do cinema, um ator com essa noção de espacialidade era interessante e possível, por isso, mesmo sem saber, eu estava formado e preparado para atuar para uma câmera. Talvez, se tivesse trilhado uma formação mais clássica no teatro, minha ida para o cinema tivesse demorado um pouco mais”, explica.
Em 1998, são lançados dois filmes dirigidos por Walter Salles com Matheus no elenco: “Central do Brasil”, produção amplamente premiada, indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; e “Primeiro Dia”, co-dirigido por Daniela Thomas, com o qual Matheus foi premiado como Melhor Ator pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Dois anos depois, é novamente contemplado na mesma categoria dessa premiação por sua atuação em “O Auto da Compadecida” , de Guel Arraes. Com o texto de Ariano Suassuna, Nachtergaele viveu um dos personagens mais importantes da sua carreira: o esperto João Grilo. Com este personagem, recebeu o prêmio de Melhor Ator pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
No cinema, fez parte do elenco de cerca de 30 produções, entre elas, “Cidade de Deus” (2002), de Fernando Meirelles; “Bufo & Spallazani” (2001), adaptação do texto de Rubem Fonseca dirigida por Flávio R. Tambellini; “A Concepção” (2005), de José Eduardo Belmonte, em que interpreta o personagem “X”; “Tapete Vermelho” (2006), comédia de Rosa Napumoceno na qual faz o papel de Quinzinho, o caipira protagonista do filme. O pernambucano Cláudio Assis foi um dos diretores com quem Matheus mais trabalhou até o momento. Participou de todos os longas-metragens de Assis: “Amarelo Manga” (2003), “Baixio das Bestas” (2007), “Febre do Rato” (2012) e “Big Jato” (2015), filme que fará sua estreia ainda este ano, no 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
Em 2014, foi protagonista de “Trinta” – foto abaixo – (que será exibido no Festival de Cinema de Vitória este ano), de Paulo Machline, cinebiografia sobre o carnavalesco Joãosinho Trinta. Um de seus últimos trabalhos para o cinema foi “Quando Parei de me Preocupar com Canalhas”, curta-metragem de Thiago Vieira que lhe rendeu, neste ano, o prêmio de Melhor Ator no 43o Festival de Cinema de Gramado.
Experiência como diretor
Matheus Nachtergaele também assina a direção e o roteiro do longa-metragem “A Festa da Menina Morta”. Com exibição de estreia na seleção oficial do Festival de Cannes, na mostra Un Certain Regard, de 2008, o filme tem como protagonista o ator Daniel de Oliveira, que recebeu diversos prêmios em festivais nacionais e internacionais.
Com a parceria do cineasta pernambucano Hilton Lacerda no roteiro, o filme foi gravado em Barcelos, no Amazonas. Seu argumento foi inspirado em uma cerimônia religiosa presenciada por Nachtergaele, na qual uma família celebrava o milagre do aparecimento do vestido de sua filha desaparecida.
“É um filme sobre os lutos de um Brasil abandonado que está na Amazônia, sobre meus lutos familiares, sobre o luto de Deus e a persistência das religiões mesmo diante da morte de Deus anunciada por Nietzsche. Isso tudo com um colorido tropical”, explica Matheus.
A carreira na TV
A ida de Matheus Nachtergaele para a televisão aconteceu de maneira paralela aos trabalhos no cinema. Sua primeira participação na telinha foi em 1997, integrando o elenco de alguns episódios de “A Comédia da Vida Privada”, quadro exibido no programa Fantástico, da TV Globo. No ano seguinte, interpreta o emblemático personagem Cintura Fina, na minissérie “Hilda Furacão”
A partir daí, Nachtergaele participa de mais de 20 produções na TV Globo, onde atuou em séries como “A Muralha” (2000), “Os Maias” (2001), “Os Amadores” (2005 a 2007), “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes” (2007), “Queridos Amigos” (2008), “Decamerão, a Comédia do Sexo” (2009), “Ó Pai, Ó” (2009 a 2011). Sua última participação em séries na Globo foi como o personagem Fernando de Souza em “Doce de Mãe” (2014), produção protagonizada pela atriz Fernanda Montenegro, com direção de Jorge Furtado.
Sua estreia em novelas foi no papel de Pai Helinho em “A Cor do Pecado”, de João Emanuel Carneiro, exibida em 2004. No ano seguinte, interpreta o ingênuo peão Carreirinha, em “América”, de Glória Perez, personagem que lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Prêmio Melhores do Ano do programa Domingão do Faustão. Também interpretou os personagens Miguezim, em “Cordel Encantado” (2011), e Seu Encolheu, em “Saramandaia” (2013), esta última, refilmagem da produção exibida pela TV Globo em 1976, inspirada na obra de Dias Gomes.
SERVIÇO
– Homenagem ao ator Matheus Nachtergaele (Homenageado Nacional do 22º Festival de Cinema de Vitória) – Segunda-feira (14/09), às 20h30, no Theatro Carlos Gomes.
– Exibição do longa-metragem “Trinta”, de Paulo Machline – Sábado (12/09), a partir das 15h, após exibição de curtas dentro da Sessão Especial BNDES.