19/02/2019 09h13 - Atualizado em 19/02/2019 17h20

Um olhar sobre Itapina

Você já foi ao Sítio Histórico de Itapina, em Colatina? Tem muita história por lá. No texto abaixo, você conhece um pouco mais sobre o Sítio Histórico pela ótica da nossa arquiteta Eliane Lordello, responsável pelo acompanhamento das ações da Secult no Sítio Histórico de Itapina.

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

(Milton Nascimento, Encontros e Despedidas)

Itapina é um distrito ferroviário de Colatina, Espírito Santo, uma vila que vê todos os dias, e muitas vezes ao dia, a passagem do trem, seja de passageiros, seja de minério. A vila conheceu tempos áureos, em que vicejava pelo comércio e os serviços, ligados à estação de trem. Ademais disso, a área rural de Itapina registrou, outrora, significativa produção de café. A erradicação deste “ouro-verde”, nos anos 1970 contribuiu fortemente para a decadência da vila. Esse declínio, no entanto, acabou por preservar o conjunto arquitetônico, que junto com a paisagem circundante conformam o ambiente urbano de Itapina.

Em reconhecimento a esse ambiente urbano preservado, o sítio histórico foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura, por meio da Resolução CEC No 003/2013. Atualmente, o sítio histórico recebe visitas quinzenais dos técnicos da Secretaria de Estado da Cultura (SECULT). Nessas oportunidades, são dadas orientações aos moradores da vila, quanto à conservação de seus imóveis e a respeito de intervenções no conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico do local.

Essas qualidades urbanas e paisagísticas de Itapina pautam este texto, que visa, tão somente, narrá-las e ilustrá-las, como um convite a olhar Itapina, com o carinho que a vila merece.

Sendo Itapina uma vila desenhada com o rio Doce, este curso de água marca fortemente a paisagem do local, ressaltando-a por água, pedras e vegetações. Assim, o leito entre ocre e verde do rio, os cinzas das pedras, os verdes em vários matizes margeiam e colorem toda a extensão do traçado urbano da vila.

Em termos de configuração urbana, o desenho da vila é delineado pelo rio e pela linha férrea, da qual persistem os trilhos e a antiga estação.

Atualmente reduzida a uma parada dos comboios que correm por aí todos os dias, seja levando pessoas ou minério, na linha Vitória-Minas, a estação merece ser ressignificada. Gestões para isso estão sendo realizadas pela SECULT.

 

Já na vila de Itapina, a principal via recebeu o nome de uma antiga moradora do local, Elisa Castiglione Rosa. Nela estão os principais imóveis que testemunham o movimento comercial de outrora no local.

Entre eles, um antigo hotel, resquício do auge da economia do café, tempo de glória de Itapina. Com arabescos sobre os seus vãos, sua arquitetura denota a presença árabe na economia do lugar. Pesquisadores autônomos já estão se ocupando da recuperação deste ainda belo prédio.  Essas pesquisas são parte de um processo de reversão do desabrigo em Itapina, por uma ocupação plena da vila, onde persistem muitas casas habitadas, igrejas que tocam seus sinos, eventos que movimentam a área, como o Festival Nacional da Viola – FENAVIOLA, anualmente realizado aí.

A igreja, as casas e tudo o que em diante veremos revelam o vínculo das pessoas com sua pequena vila, sua esperançosa persistência no local.

Há muitos imóveis habitados e bem conservados, que manifestam composições estilísticas variadas. São linhas que denotam a influência arquitetônica do Ecletismo, do Protomodernismo e do Art-Decó.

Um deles é o casarão onde viveu a escritora e dramaturga Virgínia Tamanini, restaurado pela Secretaria de Estado da Cultura para sediar o Museu Virgínia Tamanini. Nascida em Santa Teresa, Tamanini é autora do livro Karina, sobre a imigração italiana no Espírito Santo, e teve Itapina por moradia por muitos anos. 

Outros restauros importantes nos permitem comemorar. A Casa do Val, restaurada com apoio dos editais Funcultura da SECULT e com orientações da do corpo técnico desta secretaria.

Assim como a Casa do Val, as obras de agora em diante mencionadas foram também restauradas com esse mesmo apoio e orientação.

A Casa da Parteira Perina Rognoni, cujas mãos deram à luz tantos itapinenses. O imóvel hoje abriga um centro de referência e memória do trabalho da parteira.

A “Egreja de Sant’Antonio”, capelinha cujo restauro foi inaugurado com um recital de canto lírico, e comemorado com um almoço participativo promovido pela comunidade.

A Casa Carneiro, que voltou a ser habitada após o restauro.

O templo Evangélico, recém-restaurado e em pleno funcionamento. Assim é que queremos Itapina, habitada, vitalizada, e olhada com zelo. Um olhar carinhoso, que se atenta a minúcias como as belas janelas da vila, o desenho de suas portas, os detalhes de seus frontões.    

 

 Em visitas ao local, é perceptível que a recuperação material da vila contribui para o resgate da autoestima dos moradores e usuários de Itapina. Igualmente contribui para isso a atuação da SECULT junto à comunidade, incentivando ações de patrimônio material e imaterial. 

São técnicos, pesquisadores e professores que frequentam a vila – e a comunidade os acolhe, comparecendo às reuniões de discussão sobre sítio histórico, e aos eventos nele desenvolvidos.

Entre esses eventos, destacam-se as oficinas e cursos de educação patrimonial, frequentes em Itapina. Na foto acima, vemos uma reunião na escola Maria Ortiz durante evento de educação patrimonial apoiado pelos Editais de Cultura do Funcultura, e com orientações da SECULT.

Diante do quadro atual da vila, e por tudo o que acima foi dito, só nos resta agradecer a oportunidade de trabalhar por Itapina.

Muito obrigada!

 

Texto e fotos: Eliane Lordello

Arquiteta e urbanista formada pela Ufes em 1991, mestre em Arquitetura pela UFRJ em 2003 e doutora em desenvolvimento Urbano na área de conservação integrada pela UFPE em 2008. Ela acompanha sítios históricos pela Secult, garantindo a manutenção do patrimônio. 

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