31/05/2019 11h50

Slam Xamego leva poesia das ruas ao Palácio da Cultura Sônia Cabral

Durante o evento será disputada uma vaga para a competição estadual de poesia falada.

“Que nosso coração seja aquecido. Os amores correspondidos. E que nunca nos falte contatinhos. Slam!” É o que deseja o mestre de cerimônias ao início de cada declamação de poesia, e o público empolgado reage: “Xamego!”. Esse é o bordão do Slam Xamego, competição de poesia falada que será realizada dia 8 de junho, às 17 horas, no Palácio da Cultura Sônia Cabral, no Centro de Vitória. Durante o evento será disputada uma vaga para a competição estadual do Slam. Para participar basta se inscrever no dia, mas as vagas são limitadas.  A entrada é franca.

 

Um dos organizadores do evento é o poeta e slammer Marcos Oliveira, conhecido por Marquinhos, que fala sobre o papel social da manifestação. “Ninguém nunca nos ensinou a sonhar. Ninguém nunca nos incentivou a ler. Eu gosto de dizer que as pessoas sempre me ensinaram xingamentos, violência, mas nunca a acreditar nos sonhos. Eu acho que o Slam está modificando isso. Para nós, jovens da periferia, que nunca tivemos muitas coisas materiais, eu acho que se eu não tivesse o Slam eu não teria chegado tão longe. Não teria um livro meu, não estaria organizando esse evento”, afirmou.

 

Para ele, o Slam dá voz para aqueles que não tem voz, aproximando a poesia da periferia. “Se eu fosse branco e fizesse poesia não seria um problema. Mas eu sou negro e favelado e as pessoas falam. Eu acho que quanto mais pessoas virem que pessoas periféricas também conseguem escrever literatura, em mais lugares eu vou entrar e mais pessoas eu vou incentivar. E isso vai se repetindo. Eu estou levando isso para minha comunidade”, disse.

 

O estudante de letras e também organizador do evento, João Martins, acredita que realizar o Slam Xamego no Sônia Cabral demonstra que o teatro é acessível a todos e ninguém deve se sentir inibido de entrar, independentemente do poder econômico ou da cor. “Há muito essa visão de que esse espaço não é meu, mas todo espaço é. É necessário ocupar porque são espaços nossos. Eu tenho certeza que a gente vai trazer um público diferente do que costuma vir, que virão pessoas que nunca foram para o teatro”, destacou.

 

Segundo o administrador do Sônia Cabral, Renan Oaks, ainda há muitas pessoas que não entram nos espaços culturais por pensarem que este espaço não os representa. “Eu estou começando a conhecer o Slam agora mas acho importante que o teatro receba cultura de todos os tipos e formatos. Quando se traz um evento que nasceu na rua para o Sônia Cabral, a gente dá oportunidade a essas pessoas de frequentarem o espaço e, assim, se faz perceber que ele é acessível para todos”, explicou.

 

Oaks reforça que um dos papéis dos agentes culturais é exatamente dar oportunidade a quem está começando e incentivar a permanência desses artistas no mercado.

 

Nos últimos anos, o Slam tem se popularizado entre os jovens brasileiros. Para Karen Valentim, gerente de Territórios e Diversidade da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), a competição de poesia falada desperta um novo interesse dos jovens pela literatura e pela escrita. “Com o Slam eles têm maior interesse e compreendem o processo criativo da escrita. Isso abre novos caminhos, eles podem ser roteiristas, trabalhar no audiovisual, há muitas possibilidades”, ressaltou.

 

Dificuldades e oportunidades 

 

O Slam Xamego será o primeiro do Estado a sair das ruas e se apresentar no Sônia Cabral para um evento só de Slam, segundo os produtores.  “Nós queremos profissionalizar o “rolê do Slam”. Mostrar que não é só ir e recitar uma poesia, tem todo um trabalho por trás que precisa ser reconhecido.  Nos outros estados a galera cobra para se apresentar. Queremos ver isso aqui também”, lembrou Marquinhos.

 

Para eles, profissionalizar permite abrir um leque de novas possibilidades, além de solucionar várias das dificuldades enfrentadas atualmente pelo movimento literário, a exemplo da falta de equipamentos básicos (microfones, caixas de som) ou de informações técnicas.

 

“Não queremos que eles (a nova geração) passem pelo que passamos. Não teve ninguém, por exemplo, que nos ensinasse a fazer um portfólio. E a gente penou para descobrir. Como faz um edital? A gente não sabe. A gente não está fazendo o evento aqui porque alguém que já fazia nos convidou. Isso fomos nós correndo atrás. Mas graças a Deus há pessoas que já lidam com literatura que nos deram abertura”, complementa

 

A ideia foi bem recebida tanto pelo assistente social e administrador do CRJ Jânio Silva, que indicou o Palácio da Cultura Sônia Cabral, quanto pela própria direção do teatro.

 

 

Embora a iniciativa mude a dinâmica original do Slam, ao diminuir o contato tão próximo com o público, o objetivo ainda é que cada espectador se sinta tão próximo como se estivesse no chão da praça dos namorados. “Não muda nada. A gente ainda vai fazer o Slam nas ruas. Nosso ponto de encontro ainda é a praça dos namorados, mas com essa edição a gente mostra que é possível fazer diferente. Sem contar que o teatro permite novas possibilidades de sonorização, iluminação, entre outros.”

 

O que é o Slam?

 

São encontros de poesia falada e performática, geralmente em forma de competição, em que um júri popular, escolhido espontaneamente entre o público, dá nota aos slammers (os poetas), levando em consideração principalmente dois critérios: a poesia e o desempenho.

 

 

As competições são bem flexíveis, com poucas regras que variam de acordo com os organizadores. No geral os poemas podem ser de qualquer estilo, forma e tema. É necessário, porém, ter no mínimo três textos de própria autoria para recitar, uma vez que eles não podem ser repetidos e a competição tem três fases. Cada performance deve durar três minutos, porque depois disso os pontos são descontados. E qualquer poema discriminatório (por exemplo, homofóbico, machista, racista) é instantaneamente eliminado.

 

Além disso, não é possível usar qualquer tipo de auxílio visual ou/e fantasia, instrumento musical, música pré-gravada ou base musical. Há duas razões para essa regra: manter o foco nas palavras e performance do poeta; e garantir a igualdade de condições para todos.

 

Cada Slam se reúne em locais diferentes e tem suas próprias particularidades. Normalmente o tema predominante é a resistência militante em suas diversas vivências. O Slam Xamego segue uma vertente de Slam diferente, tendo como foco as emoções, principalmente o amor. As atividades do grupo começaram este ano. Todo terceiro sábado do mês cerca de 50 jovens, entre Slammers, estudantes e escritores, se juntam na praça dos namorados para compartilhar poemas e afetos.   

 

Texto: Carla Nigro

 

Serviço:

 

Local: Palácio da Cultura Sônia Cabral

Data e horário: sábado (08)

Ingresso: Entrada Franca

 

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