O Espírito Santo acaba de ganhar mais um Ponto de Memória. Desta vez, o destaque vai para as rendeiras de bilro, que agora contam com um espaço virtual dedicado ao registro de suas histórias, saberes e fazeres: o site www.barraderenda.com  A iniciativa valoriza a prática tradicional do bilro no estado, reconhecendo a arte de trançar fios como expressão cultural, afetiva e econômica das mulheres capixabas.

O projeto é uma realização do Grupo Barra de Renda, de Vila Velha, e foi contemplado pelo Edital nº 06/2023 da Secretaria da Cultura (Secult), com recursos do Fundo de Cultura do Espírito Santo (Funcultura). O site reúne publicações literárias, vídeos, depoimentos e documentos históricos que revelam como, há séculos, mulheres de diferentes grupos sociais vêm mantendo viva essa tradição, símbolo da cultura popular tradicional.

Confira o site: https://barraderenda.com/

 Curiosamente, o ofício da renda era comum a diversas comunidades pesqueiras ao longo do litoral brasileiro — e o Espírito Santo não foi exceção, seguindo a máxima portuguesa: "Onde há rede, há renda!"

Memória viva

Segundo Regina Maria Ruschi, coordenadora do Grupo Barra de Renda, o projeto inicialmente focou no resgate das histórias das rendeiras da Barra do Jucu, em Vila Velha, e de Meaípe, em Guarapari — dois importantes polos da produção artesanal de renda que sofreram com os impactos do avanço da indústria têxtil.

“É fundamental salvaguardar essas memórias, registrar as técnicas e instrumentos usados ao longo do tempo, mas também destacar as mulheres que foram mestras no passado. Elas não apenas dominavam a arte da renda manual, como também contribuíam significativamente para a economia doméstica e para um modo de vida próprio em suas comunidades. São motivo de orgulho para as gerações atuais e futuras”, destaca Regina.

Trajetória histórica

O site traz um rico acervo com registros literários, vídeos, depoimentos de familiares e das próprias rendeiras, que ajudam a compor a história da renda manual no estado. O primeiro relato sobre rendeiras de bilro no Espírito Santo foi feito pelo francês Auguste François Biard, que visitou o estado entre 1798 e 1882. Em seu livro Dois Anos no Brasil, ele narra ter encontrado mulheres fazendo renda em aldeias indígenas de Santa Cruz, no município de Aracruz.

Outro registro importante está no livro Nossa Vida no Brasil: imigração norte-americana no Espírito Santo entre 1867 e 1870, da escritora Julia Louisa Keyes. Ela descreve:“Alguns foram atraídos ao verem mulheres fazendo renda sobre almofadas, o que era feito com grande destreza, usando inúmeros alfinetes e bilros. Esses bordados e pontos eram realmente belos, e as senhoras usavam-nos para adornar seus vestidos.”

Para Regina Ruschi, esses registros mostram como a renda de bilro atravessou o tempo e se tornou parte essencial da formação cultural capixaba:“Eles nos ajudam a entender quem somos e mostram a importância da transmissão das tradições de geração em geração, até chegar aos dias atuais, com o valor que essa arte ainda tem para as comunidades.”

O que são Pontos de Memória?

Os Pontos de Memória surgiram em 2009 por meio de uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e o Ministério da Cultura, dentro do Programa Mais Cultura e do Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (PRONASCI), do Ministério da Justiça.

O objetivo é identificar, apoiar e fortalecer iniciativas de memória e museologia social, baseadas na gestão participativa e no vínculo com as comunidades e seus territórios. Trata-se da materialização do direito à memória como direito fundamental — não apenas uma expectativa, mas um instrumento de inclusão e transformação social. Assim, o resgate da memória das rendeiras de bilro busca reconhecer o protagonismo dessas mulheres — em sua maioria, oriundas de famílias de pescadores — no contexto social e cultural capixaba. Valorizar esse patrimônio é fortalecer a cultura popular tradicional e torná-la mais acessível a todos os capixabas.

Serviço:

 Novo Ponto de Memória das Rendeiras de Bilro de Vila Velha - Projeto Barra de Renda

Horário de Funcionamento:

Terça a quinta-feira – das 14h às 17h e Sábados – das 9h às 11h

Endereço: Rua Vasco Coutinho, s/nAnexo à Unidade de Saúde, Barra do Jucu – Vila Velha.

Acompanhe também pelos links:

Confira o site: https://barraderenda.com/

Instagram: @barraderenda

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