07/11/2025 16h17

Cultura bantu no Espírito Santo é tema de debate no Prosas Literárias

A cultura bantu será tema de debate no Prosas Literárias, nesta terça-feira (11), às 19h30, no Espaço Thelema, no Centro de Vitória, com mediação de Josi Nery. O convidado desta vez é o Mestre de Congo e pesquisador Renato Santos, que levará como base para a discussão dois textos de própria autoria. A atividade faz parte da programação do projeto Entrelaços, por meio do qual estão realizadas atividades culturais gratuitas durante todo o ano de 2025.

O Entrelaços é realizado através do Edital de Programação Continuada de Espaços Culturais, com recursos da Lei Paulo Gustavo (LPG), por meio da Secretaria da Cultura (Secult).

Os textos trabalhados serão “A maldição do mundo dos mortos” e “O caminho das grandes águas”, publicados no livro da exposição Sete Caminhos do MAES ao Quintal Bantu, realizada nos anos de 2022 e 2023. Renato Santos explica que o primeiro texto trata da iniciativa de Zambi de criar um equilíbrio entre o mundo dos vivos e o dos mortos.

“Por isso, conservamos nossos ancestrais, pois estiveram no mundo dos vivos e agora estão no dos mortos fazendo essa intermediação com Zambi”, afirma. O outro texto trata da conexão feita por Dandalunda, dona das águas, entre os bantus de Vitória e Angola Congo, uma vez que, de acordo com Santos, as águas da Grande Vitória são consagradas a Dandalunda.

O pesquisador recorda que cerca de 70% da população capixaba é de origem bantu, mas que muito da história desse povo, de origem africana e que foi um dos primeiros desse continente a chegar ao Brasil, foi apagada no Espírito Santo. Ele recorda os aterros feitos em Vitória, que, conforme afirma, “apagaram o caminho das águas com os ancestrais. Mas os caminhos continuam abertos, é só caminhar”, pontua.

Outro fato histórico recordado por ele é o conflito entre peroás e caramurus, que remonta ao século XIX, quando, em 1832, o guardião do Convento de São Francisco, no Centro de Vitória, impediu a saída da procissão de São Benedito, protagonizada pelos negros, de maioria bantu, que já tinha mais de 100 anos. Além disso, retirou a imagem do santo do altar.

A imagem, então, foi roubada em 1833 e levada para a Igreja do Rosário, construída pelos escravizados e onde tinha a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.  Lá, foi formada uma guarda de honra para que não fosse retirada. Surge, então, a Irmandade de São Benedito do Rosário. A rivalidade acabou fazendo surgir dois grupos: os Caramurus, ligados ao Convento de São Francisco, e os Peroás, da Igreja do Rosário.

Caramuru, que, inclusive, dá nome ao viaduto próximo ao Parque Moscoso, era o nome de um partido que queria a volta do Brasil à condição de colônia. Já Peroá é um peixe que, na época, era considerado de pouco valor. Renato Santos, aponta que a disputa entre peroás e caramurus “é uma história tão poderosa quanto as dos Malês. Mas na Bahia os negros viraram heróis e no Espírito Santo viraram piada”.

O coordenador da Thelema, David Rocha, acredita que a discussão sobre a cultura bantu é de grande importância para compreensão das raízes e da formação da identidade capixaba, especialmente diante do apagamento histórico que marcou a presença desse povo no Espírito Santo. 

“Ter o Renato Santos falando sobre isso na Thelema é um privilégio e uma alegria. Renato é uma figura muito querida e traz não só o olhar de pesquisador, mas também a vivência e o pertencimento a essa história. É exatamente esse tipo de encontro que queremos promover com o Prosas Literárias e o Entrelaços; momentos de encontros, memória e o diálogos”, destaca.

Entrelaços

Nos sete anos de existência da Thelema, muitas ações foram desenvolvidas, com os mais diversos parceiros e inúmeras linguagens. Foram experiências que se entrelaçaram, fazendo com que o espaço cultural se tornasse isso que é atualmente: uma referência no protagonismo dos artistas locais e na democratização da cultura no coração do Centro de Vitória.

O Entrelaços teve início com a I Viradinha da Thelema, no dia 8 de fevereiro. Seu objetivo é dar continuidade aos projetos já existentes, criar novas atividades, fortalecer o diálogo entre agentes culturais, parceiros, artistas e a comunidade, além de abranger o maior número possível de participantes nas atividades culturais, que englobam ações como o Projeto Ensaios, com a apresentação de músicas autorais de artistas locais; e Prosas Literárias. Ambas as ações já são desenvolvidas pela produtora cultural da Thelema, Ruth Rangel.

A Thelema

A Thelema foi inaugurada em fevereiro de 2018, em um espaço na rua Gama Rosa, no Centro de Vitória. Em pouco tempo, o espaço cultural passou a ser referência para a classe artística e para o público, principalmente o da Capital, atraindo também pessoas de outros municípios da Grande Vitória. Assim, a estrutura física onde estava instalada se tornou pequena para a quantidade de pessoas que iam até lá participar das atividades e também para os projetos que estavam sendo propostos pelos produtores da Thelema e por artistas locais.

A solução foi encontrar um espaço maior para se instalar. Por isso, a partir de 2020, a Thelema passou a funcionar na rua Graciano Neves, também no Centro de Vitória, em uma edificação de quase 100 anos que passou muito tempo abandonada após a morte das quatro irmãs que ali habitavam: Oneide, Odaleia, Odete e Olga, todas pianistas. A Thelema se encontra ainda hoje neste imóvel.

Serviço:

Prosas literárias com Renato Santos

Data: 11/11 (terça-feira)

Horário: 19h30

Local: Espaço Thelema - R. Graciano Neves, 90 - Centro, Vitória 

 

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