12/08/2019 14h01 - Atualizado em 12/08/2019 14h05

Arte, psicologia e curandeirismo: conheça a exposição ‘O Trauma É Brasileiro’ na Galeria Homero Massena

Trabalho de Castiel Vitorino Brasileiro está em cartaz até o dia 24 de agosto no Centro de Vitória.

“A cura é uma questão de tempo e os meses podem ser dias. Ou meia hora”, afirma a artista Castiel Vitorino Brasileiro sobre parte de sua pesquisa presente na sua exposição, “O Trauma É Brasileiro”, em cartaz na Galeria Homero Massena, no Centro de Vitória.

Em exibição até o dia 24 de agosto, a mostra traz a instalação “Quarto de Cura”, que reúne obras criadas a partir das investigações da história familiar da artista e de registros de suas pesquisas que englobam saberes da arte, do curandeirismo e da psicologia tradicional. São diversas fotografias, textos, indumentárias e outros objetos que compõem a obra imersiva.

Com 22 anos e graduanda do 10º período do curso de Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Castiel falou para a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) sobre como a obra pretende trazer uma atualização dos saberes Bantu, tão expressos no modo de vida "aquilombado" de sua família, para denunciar o apagamento da diferença, e que de acordo com artista, impôs um modelo cultural e de racismo que está inserido na sociedade brasileira.

  A exposição “O Trauma É Brasileiro” relaciona e debate conceitos dos campos da arte, da psicologia tradicional e do curandeirismo. Perante o objetivo inicial do projeto, o que você está achando do resultado do trabalho?

“Minha pesquisa é um desejo de continuar viva, para isso preciso me aquilombar, ou seja, criar e fortalecer uma rede com vidas que possibilitam - reciprocamente - nossas liberdades e descansos. Nessa exposição, eu monto pela terceira vez a obra ‘Quarto de Cura’, e novamente consegui dizer e criar processos de promoção de saúde para pessoas negras e LGBTQ+. Em mim, não espero um resultado, mas sim proposições de novas possibilidades de fim. Fim de traumas brasileiros, fim de traumas da diáspora; sendo a diáspora em si um trauma. E tenho acompanhado alguns processos de regeneração dos adoecimentos coloniais, em que minha pesquisa e aposta de vida comparecem com importância na vida dessas pessoas adoecidas que estão experimentando- de modo singular - a cura. É delicioso perceber e ouvir de outra pessoa que a cura existe e que eu a ajudei vivê-la”.

Os saberes Bantu são ancestrais e sua exposição tem particularidades contemporâneas, como a psicologia tradicional e o campo da arte. Como você faz essa relação?

“A ancestralidade e a tradição são conteúdos em movimento, a atualização desses saberes acontecerá enquanto houver a existência de pessoas negras. Veja, Renato Santos, meu mestre de congo, muito me ensina sobre a diáspora Bantu, e ele é também contemporâneo a mim, além de ser meu ancestral. A atualização é necessária e 'natural', ela acontece de acordo com os desejos que movem cada existência.

Eu sou psicóloga, artista e tenho construída, para mim, uma origem Bantu. Quando decido e aceito me compreender através da cosmologia Bantu, não há possibilidade - nem desejo - de apagar minhas histórias que antecedem a esse desejo de criação Bantu. O que torna possível é a produção de novos desejos a partir desses movimentos cosmogônicos que tenho feito com minha corporeidade negra e não-cisgênera; desejos de fugir e viver e ser feliz. Então, a atualização é uma questão de tempo, movimento e espaço. Eu vivo um tempo espiralado, onde o passado, presente e futuro coexistem em mim de modo cíclico. Esse diálogo acontece em minha existência, logo, em forma de gesto, emoções, espiritualidades, cognições. E faço isso nos lugares que habito, na diáspora que vivo, ou seja, Espírito Santo, Brasil e meu próprio corpo”.

O que você achou das primeiras reações do público perante a exposição?

“A reação é sempre primeira, e não é o início da exposição que determina isso. Existirão reações primeiras até o fim do projeto. E tenho percebido que são reações de surpresa, desconforto e acolhida. A exposição está acontecendo em um espaço público, assim como a arte. Então não tenho controle, e nem quero ter, daquele que chega até a mim. Meu trabalho fala de promoção de vida para travestis, bichas, pessoas negras e indígenas. Eu digo sobre cura para nós justamente porque estamos sendo mortificadas a todo instante. Quando assumi essa posição na arte e na instituição, optei por – novamente - discutir publicamente racismo e violências de gêneros. Essas discussões são feitas com pessoas que concordam ou abominam a matança racializada. E as emoções e reações são essas, de aniquilação e promoção de vida. Não se trata então de uma análise cronológica maquínica de início meio e fim, e sim num tempo orgânico da cura onde enquanto eu estiver viva, as reações perante minha vida estarão acontecendo também de modo iniciais, inaugurais. O que se inicia quando nos encontramos com uma travesti curandeira que é bicha? ”

Quais seus futuros projetos?

“Eu desejo criar o ‘Quarto de Cura’ fora do Espírito Santo e desejo compreender, de modo ainda mais equilibrado, o tempo de cura para pessoas negras dissidentes sexuais. Desejo fazer viagens ao mar para compreender o amor de marinheiro”.

Exposição “O Trauma É Brasileiro”

Contemplada pelo Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura) por meio do Edital 019/2018 - Seleção de Projetos de Exposições de Artes Visuais, a exposição recebe a visita do público em geral e de grupos que realizam visitas guiadas mediante agendamento prévio. Quem assina o projeto de arte educação é a artista e doutora em Educação Kiusan Oliveira.

Serviço

Exposição O Trauma É Brasileiro, de Castiel Vitorino Brasileiro

Local: Galeria Homero Massena - Rua Pedro Palácios, nº 99 - Cidade Alta, Centro de Vitória, Vitória - ES

Visitação

De 12 de junho até 24 de agosto de 2019

De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, sábado, das 13 às 17h.

Visita de grupos

Mediante agendamento com a equipe da Galeria Homero Massena

 (27) 3132 8395 / educativoghm@gmail.com

Site e redes sociais

Blog: otraumaebrasileiro.blogspot.com

Instagram: @castielvitorino

Facebook: @psicotendencia

Texto e entrevista: Danilo Ferraz

Informações à imprensa:
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